Friday, June 27, 2008

Myxomatosis


Espiadela ao mundo gay

Hora: 6 da matina
Local: Príncipe Real, Lisboa
Personagens reais: Clara, Sérginho e Lwena
Estado: ébrios

Estamos sentados num banco de madeira no jardim do Príncipe Real. Aguardamos pela abertura de um dos cafés da zona a fim de tomarmos um bom pequeno-almoço.
O meu amigo Sérginho está entre mim e a Lwena. Os pássaros anunciam o novo dia, enquanto cozemos a bebedeira dizendo disparates e fumando erva sem parar.
Convém dizer que o Sérginho é gay e talvez por isso é que lá fomos parar. Á medida que o tempo passa, ele vai girando a cabeça e fazendo sinais aos homens que por ali passam, ao mesmo tempo que vai dizendo "vocês as duas estão dar-me cabo do caldinho". Talvez. Mas estamo-nos nas tintas para isso.
Eu estou pasma. Vivi mais de vinte anos em Lisboa, era frequentadora assídua do Bairro Alto e nunca soube que o Príncipe Real era paragem obrigatória para gays. É ali um dos pontos de partida para uma noite de sexo ou algo mais.
A Lwena vai tentando meter conversa com os pássaros. Entre um chilrear e outro, atira "porra, parece-me que para vocês é mais fácil. É só chegarem aqui e zás. Têm a papa toda feita". Sei bem porque diz aquilo. Não come ninguém há quase um ano e chegou à conclusão que é difícil engatar gajos. A mim parece-me que ela é que não se deixa engatar.
Entretanto, sentou-se um homem no banco à nossa frente. Faz sinais ao meu amigo e ele vai acenando. Começo a achar que a qualquer momento vamos ficar sem Sérginho. Engano-me. O homem levanta-se de repente e vai ter com um outro. Ficam na conversa durante meia-hora.
Vindos não sei onde, chegam cada vez mais homens. Uns sentam-se e outros vão dando voltas ao longo do parque. Registo tudo mentalmente. Estou fascinada com esta porta de entrada para o mundo gay.
Os dois homens levantam-se. A conversa deve ter sido proveitosa porque partem juntos rumo à paragem de táxi. Os táxistas da zona já estão habituados e "muitos deles também páram aqui. E são na sua maioria homens casados e pais de filhos", diz-me o Sérginho. Catano, penso eu. Devo estar com cara de alucinada porque ele olha para mim e desata-se a rir.
Já li inúmeros artigos sobre o mundo gay mas todos nós sabemos que nada melhor do que a vivência. E ali estava eu. A observar in loco a rotação extraordinária de dezenas de homens em busca de prazer e a encher a cabeça com imagens pornográficas.
O Sérginho faz-me voltar à realidade, "devias fazer uma reportagem sobre isto". Ah, pois devia!

Wednesday, June 25, 2008


"Hay que endurecerse sin perder la ternura"

Che Guevara
Preciso de um café extra-forte e de uma passagem de avião para Nova Iorque. Talvez encontre o Shemar Moore ou o Eddie Vedder pelas ruas americanas. Talvez vá direitinha ao bar mais in e me enfrasque com dry martinis, shots ou licores duvidosos. Quem sabe não me apaixone loucamente como nos folhetins mexicanos?

Angola no seu melhor

O prédio da DNIC - direcção de investigação criminal - caiu. O som da tragédia começou a ouvir-se à uma da manhã. A cave tinha duas celas, uma para mulheres e outras para homens. O prédio foi construído sobre um lençol de água, no tempo colonial. Os funcionários do prédio da DNIC puseram-se na alheta ao perceberem que a tragédia vinha contra eles a passos largos. Os reclusos e reclusas gritaram por socorro. Imploraram aos guardas que os deixassem sair. As entidades governamentais já sabiam que o edíficio corria o risco de cair. Semanas antes, andaram por lá chineses a colocar vidros novos e a pintar a fachada. Ás quatro da manhã o prédio cai. Era um sábado. Os bombeiros acorrem ao local. Um dos ex-directores da DNIC afirma indignado perante os órgãos de comunicação que a tragédia podia ter sido evitada, enquanto leva as mãos à cabeça. Escombros e mais escombros. Encontram-se os primeiros mortos. São reclusos. Os transeuntes perguntam-se se há hipótese de salvar as reclusas. Elas ainda estão vivas, graças a um telemóvel levado até à cave por um cão pastor alemão. Sabe-se que na cela das reclusas encontra-se um bebé recém-nascido. Coisas de Angola. Horas depois, as prisioneiras e o bebé são tirados sem vida dos escombros. A ambulância leva os corpos para a morgue do hospital mais próximo. Está muito calor. Não há espaço para os mais de vinte mortos...

Tuesday, June 24, 2008

Fumo onde quero. Beijo quem quero.


Shhh...não sussurres o amor, nem grites por ele. Deita-te apenas aqui e sonha com o verde da natureza e o cheiro a chuva guardado dentro de mim.
Eu sei, meu amor...tens medo dos dias longos e das noites frias. Mas como frias se o meu corpo se encontra aquecido de amor e tesão?

Pré-tempestade

E os dias passam assim. Assim sem chuva, sem vento, sem nada! Fecho janelas e portas de madeira. Pressinto um temporal aqui dentro. Dentro de mim. E de mim para ti.

Adopção


O comba

Ele morreu silenciosamente. Abraçado à companheira de 30 anos e mãe dos seus sete filhos. Fora os outros tantos que concebeu longe do santo lar. Não teve tempo de suspirar um “minha velha tou a bazar” ou “minha velha apesar dos pesares sempre te amei”. O cancro consumiu-lhe a próstata até à exaustão. Roeu-lhe a vida e parte das poupanças. É duro ser doente em Angola. Ainda foi à África do Sul buscar ajuda, mas a coisa já estava mal parada e resignado, decidiu dar o último suspiro perto dos seus.

Quando soube da notícia, sentiu-se morrer antes do tempo. Perdeu a cor, logo ele que tinha a pele escura como a noite. Reuniu a família, pais, filhos, cunhados e esposa e contou-lhes a sua desgraça. Disse que não sabia quando se juntaria ao Criador mas que seria com certeza em breve. Muito breve. Logo se ouviram lágrimas, queixumes sofridos e palavras de conforto sem esperança. Ele deixou-se envolver para logo a seguir pedir calma. Disse que queria aproveitar os últimos momentos. Fazer o que nunca pôde como andar na montanha russa, levar a mulher a conhecer a Namíbia e aproveitar para levar o carro aos 180 quilómetros/hora, fazer as pazes com o irmão inimigo e tratar do seu próprio comba. Comprou inúmeras grades de cerveja e gasosa. Deixou dinheiro para se comprar frangos para assar. Aproveitou e comprou a potente aparelhagem que andava de olho há meses, porque como ele mesmo dizia “quando estiverem a velar pela minha alma quero ouvir os sucessos do Burity”. No meio da correria, impôs apenas uma condição. Não queria carpideiras contratadas. Já que se ia mudar para a cidade das tabuletas, então que o bairro inteiro ouvisse choros genuínos.
A mulher não entendia aquelas decisões e convenceu-se que o marido estava assim desatinado por causa da doença do caranguejo, como ela lhe chamava. Procurava persuadi-lo mas ele dizia que não, “pois que a morte é minha e quero organizá-la como deve ser”.

Ia religiosamente fazer o tratamento. Não sabia se por rotina ou vontade de viver. O cabelo crespo caía e o corpo ia largando a vida sem resistência. Metia-se com as enfermeiras e vangloriava-se do número de filhos feitos com outras mulheres. Afirmava para quem quisesse ouvir que “o facto de estar careca e magro não me retira o prazer de olhar para uma mulher e se me derem a oportunidade, ainda faço um filho ou dois”.
A mulher conhecia estas gabarolices e fez-se de morta. Sempre soube das outras mas pautou pela discrição, afinal de contas, tinha muito a perder se armasse confusão ou se o pusesse contra a parede. E ao final de 30 anos de um casamento com altos e baixos, sempre soube que estava ligada àquele homem por um qualquer motivo desconhecido, embora até à data nunca tivesse partilhado este sentimento com ele.

Então, na noite anterior à morte do marido, depois do jantar e de uma conversa sobre os tempos de juventude, ela saiu-se com “desde esses tempos que gosto de ti”. Os olhos dele brilharam e ela espantou-se porque há muito não via aquela luz. Percebeu que o devia ter dito há mais tempo e sentiu-se invadir pelo remorso. E ele sem dizer palavra, envolveu-a num abraço com anos de companheirismo.
Quando ele morreu, sentiu-se aliviada por ter-lhe confessado aquele amor. Cumpriu o comba organizado pelo marido à risca. Impediu a entrada das amantes e dos filhos desta. Uma coisa era saber delas e outra muito diferente era deixá-las entrar naquele mundo construído a dois. Ela própria consolou os filhos, sem verter uma lágrima.

Foi um belo comba. Os choros ouvidos pela vizinhança eram genuínos e foram apenas suplantados pela voz límpida do Burity que cantava, ”para quê falar da minha vida, minha sina é mesmo assim. Meus pecados cometidos Deus já perdoou, eram tão leves que logo apagou”...

Obs: comba = velório

Friday, June 20, 2008

Menino de Angola

"Aos 12 anos, Rui tem três "profissões" e um único local de trabalho, as ruas de Luanda, onde carrega as "compras dos outros", vende pão que "outros comem" e lava carros que nunca vai ter. Vive com a mãe e mais três irmãos mais novos no São Paulo, bairro que faz fronteira com o Sambizanga, onde se situa o maior mercado informal de Angola, o Roque Santeiro, local que visita "quase todos os dias depois do trabalho" para comprar "o jantar" para ele e para a família.
A jornada de trabalho de Rui é fácil de seguir pelo mapa que ele próprio desenha mentalmente num intervalo em que falou com a Lusa, próximo do bairro do Maculusso, onde se desloca para lavar uns carros "manhãzinha cedo".
Depois, segue para a zona da Maianga onde tenta a sorte de encontrar alguém a precisar de auxílio para subir escadas com compras, ou outros "pesos", e ainda ajuda uns amigos a vender pão "até ao fim do dia" não muito longe de casa, no São Paulo.
Rui é uma das 30 por cento de crianças com idades entre os cinco e os 14 anos que a UNICEF estima trabalharem em Angola, atribuindo o mundo o 12 de Junho como Dia Internacional de Combate ao Trabalho Infantil".

Flash

Chego a casa estafado de mais um dia intenso de trabalho. Ganho uma fortuna mas dou o suor e o sangue naquela empresa. A unica chatice é ter um patrão cínico e uma secretária boa como o milho. A gaja faz-se a mim despudoramente e eu lá vou fugindo, dizendo-lhe que qualquer dia ponho-a na rua por justa causa.
A casa está às escuras. Onde estará a mulher com que me casei há dois anos? A mesa da cozinha está posta e vislumbro o meu prato favorito: bacalhau com natas. A minha esposa não sabe cozinhar, por isso deve ter sido a minha mãe que o cozinhou para mim. Sirvo-me de um pouco porque estou com outro tipo de apetite.
Chego ao quarto e encontro-a deitada na cama. Bela como sempre e nua como é hábito. Dorme de barriga para baixo porque é a sua posição favorita. Acerco-me e passo as minhas mãos grandes por aquelas pernas longas e finas. Acaricio os fios morenos e chupo-lhe a orelha. Ela geme baixinho e contorce-se sem abrir os olhos. Será que a gaja pensa que está a ter um sonho erótico?
Animado pelo gemido, abro-lhe as pernas. Fico doido de tesão e possuo-a ali mesmo. A seco.
Faço movimentos de vaivém e sinto-me um garanhão de primeira qualidade. Ela contorce-se a valer e morde os lábios. Parece que suplica por movimentos menos bruscos, mas estou tão possesso que nem ouso abrandar.
Viro-a para mim e percebo que ela continua a dormir ou a fingir que dorme. Aperto-lhe o peito e mordo-lhe o pescoço. Passei de garanhão a vampiro e apetece-me rir. De repente vejo feixes de luz e fragmento-me em mil. Respiro com dificuldade e caio para o lado, sem que ela se digne a abrir os olhos.

São antigos retratos nossos, meu amor. Perdidos entre caixas de cartão, cheiro a bafio e teias de aranha infindáveis. São fotos a preto e branco tiradas na nossa juventude. A brincar na espuma do mar. A torrar ao sol. Ou apenas de mãos dadas.
Foi há tanto tempo, meu amor. Os filhos que concebemos partiram antes de dizermos sim. Levaram com eles a nossa juventude. Não voltaram para nós e foi aí que começaste a envelhecer depressa demais. Já não sorrias com a chegada do sol. Deixaste de me abraçar e elogiar o cheiro do meu café fresco. Deixaste que os teus cabelos negros ficassem brancos como a neve. E que as rugas te pesassem no rosto com o passar das horas.
Estou só, meu amor. O frio dos dias sacode-me os ossos. Luto diariamente para sair do nosso leito. E aguardo pela senhora de negro que por um motivo qualquer, tarda em aparecer. Observo os nossos retratos e pergunto-me pela vida que escorreu entre os dedos como a brisa de Verão. Mas diz-me, meu amor. Estás à minha espera?

O amor é fodido

"Por que é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem que haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo".

Miguel Esteves Cardoso

R-E-S-P-E-C-T


"Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. (...) O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. (...) A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira.”

Miguel Esteves Cardoso

Finalmente sós

"Quando eu já estava a sossegar
Quando eu já estava a adormecer
Vi-te dançar e a minha paz morreu"

Jorge Palma

Thursday, June 19, 2008

Wish you were here


Crónicas da minha terra

Saio do trabalho às 18h00 e dirijo-me a pé para casa. Vou apressada porque estamos no tempo do frio e escurece mais cedo. Tenho a bolsa a tiracolo, os punhos cerrados e ando com passo firme. Levo o ipod dentro do soutien e tenho o fio debaixo da camisa para afastar eventuais ladrões. Bem sei que não devia andar com o meu pequeno tesouro na rua mas custa-me caminhar sozinha durante quinze minutos, sem ouvir as minhas músicas predilectas.
O telemóvel está no silêncio. Custou-me uma pipa de massa e não me interessa perdê-lo em meia dúzia de minutos entre gritos alucinados de “passa para cá o telefone senão levas um tiro”. Devia seguir o exemplo de muita gente que compra daqueles telefones que custam quase nada. São telefones comprados especialmente para os gatunos, estão a ver? Que se for preciso o malandro pergunta, “ não tens vergonha de andar com uma bomba dessas? Devias ainda levar duas bofas para aprenderes”.
A fim de evitar encontros dessa natureza vou à beira da estrada e olho para todos os lados. Quem me vê ao longe talvez pense que sofro de alguma mania, mas a violência anda à solta e todo o cuidado é pouco.
Quase não consigo apreciar a música que toca nos meus ouvidos porque encontro-me em estado de alerta. Abrando quando avisto o hotel cercado de seguranças. Paro por instantes porque preciso descansar as pernas. Vinha com um tal speed que sinto os músculos quentes e doloridos. Digo boa noite aos homens por simpatia e porque se no futuro estiver em apuros, eles podem ajudar-me.
Sigo em frente e preparo-me para atravessar a rua. Embora esteja perto do sinal que indica local de passagem para peões, os condutores ignoram a minha presença e passam a alta velocidade. Após dois ou três minutos de espera decido-me a atravessar destemida entre carros, carrinhas e motas. Estou no meu direito e faço a travessia de peito estufado porque tenho prioridade.
Quando já estou a meio da passadeira, uma condutora lembra-se de acelerar para me obrigar a correr. Quase me atropela e sai-me um “p* do caraças”! A tipa responde-me à letra e chama-me vaca. É que ela está cheia de razão, percebem? Caramba, o que estava eu a pensar quando decidi atravessar na passadeira?
Sinto a raiva tomar conta de mim e juro começar a carregar um calhau na bolsa para atirar ao vidro dos carros de todos aqueles que tentarem atropelar-me em plena passadeira. Bem sei que não é uma atitude politicamente correcta, mas fico doente com a falta de civismo da maioria dos condutores.
Quantas cenas já vi? Como aquela do candongueiro que para livrar-se do trânsito pôs-se em sentido contrário. Ou do condutor que passou o sinal vermelho e ia batendo noutro carro. Ou dos distintos automobilistas que decidem fazer do passeio a sua estrada privada, sem sequer buzinarem ou abrandarem a velocidade para evitar o atropelo dos transeuntes. E há também o caso daquela senhora que conduzia afoita em contra-mão na rua do Karl Marx que como quase toda a gente sabe, já só tem um sentido. Os guardas bem gritavam em jeito de aviso, mas a senhora parecia estar noutra realidade.
Aonde é que andam a tirar a carta de condução? Será que sabem para que servem os sinais de trânsito? Será que não sabem que um veículo é uma potencial arma? Será que desconhecem que para conduzir é necessário consciência e respeito pelos outros?
Após atravessar a segunda passadeira e passar pelo mesmo filme da primeira, avisto a entrada da minha rua. Mais uma vez está sem luz mas noto que o piso está uniforme. Olho para baixo e percebo que começaram a asfaltar a rua e fico contente, sem imaginar que três semanas mais tarde a área asfaltada não passará dali. Penso que é assim mesmo que as coisas funcionam. Começa-se mas nunca se sabe quando terminará.
Antes de chegar a casa dou dois dedos de conversa com a vizinha da frente. É uma mulher nova mas tem os olhos baços e o ar resignado de quem se habitou a esta vida dura que alguns e apenas alguns andam a levar. Queixa-se, “vê tu bem que continuamos sem luz e já lá vai uma semana. Não tenho dinheiro para comprar gerador e nem posso assar peixe no forno”.
Estou cansada demais para me juntar ao protesto. Digo-lhe “vamos fazer mais como?” como se não houvesse mesmo nada que pudéssemos fazer e dirijo-me para casa. A família está toda lá, a tratar dos afazeres com as velas na mão e a queixar-se porque não vai dar para ver a novela.
Atiro-me para a cama e custa-me adormecer. Quando finalmente entrego-me aos braços do deus do sono, assalta-me um rasgo de esperança e sinto que talvez o futuro nos traga dias melhores.

Wednesday, June 18, 2008


Agora sim. As nuvens dissiparam-se e o céu apresenta-se limpo e azul. Não sei para onde me levam os pés, mas sigo sem hesitações. Fechou-se um capítulo porque finalmente cheguei ao fim do livro. "I don´t believe in love fools" dizem os Gift. Eu também já não acredito. Saquei do baú uma nova fé. Uma que se encontrava há demasiado tempo perdida cá dentro. A fé por mim mesma. Levo-a comigo enquanto caminho sem cessar. E vou respirando...respirando fundo.

Obs: "Life is sweet for certain" e só por isso sigo viagem sem medo de deter-me por essa estrada fora. Sem medo de atropelamentos, escorpiões, serial lovers, intempéries, fome, solidão, dor e calos nos pés.

A gente não lê

"Ai senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
Rezar o terço ao fim da tarde
Só para espantar a solidão
E rogar a deus que nos guarde
Confiar-lhe o destino na mão

Que adianta saber as marés
Os frutos e as sementeiras
Tratar por tu os ofícios
Entender o suão e os animais
Falar o dialecto da terra
Conhecer-lhe o corpo pelos sinais

E do resto entender mal
Soletrar assinar em cruz
Não ver os vultos furtivos
Que nos tramam por trás da luz

Ai senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
A gente morre logo ao nascer
Com olhos rasos de lezíria
De boca em boca passando o saber
Com os provérbios que ficam na gíria

De que nos vale esta pureza
Sem ler fica-se pederneira
Agita-se a solidão cá no fundo
Fica-se sentado à soleira
A ouvir os ruídos do mundo
E entende-los à nossa maneira
Carregar a superstição
De ser pequeno ser ninguém
E não quebrar a tradicao
Que dos nossos avós ja vem"

Rui Veloso

O amor é uma flor roxa


"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo."

Clarice Lispector

Carta

Meu amor, quando vieres traz o champanhe. Encontro-me banhada num mar de tristeza. Preciso de um bom motivo para celebrar.Talvez me possas aconchegar nos teus braços e explicares-me porque ficaste tanto tempo sem me ver.Vês como estou? Atirada a um canto da sala. Bem sei que a música está demasiado alta, mas o que queres? Preciso calar estes pensamentos. Preciso ignorar as batidas deste coração solitário. Meu amor, não vês que me sinto sem alma?
Hoje reguei o jardim. Parece-me que as camélias murcharam. Coloquei adubo na terra mas não sei se surtirá efeito. E tu? Quando irás tu também adubar-me?
O Thom Yorke está a cantar aos altos berros "my fake plastic love" e ao ouvi-lo, entendo tudo sobre ti. Mas por qualquer motivo obscuro não consigo chorar. Soluço apenas esta tua ausência.
É por isso meu amor..meu amor, é por isso que te escrevo.

Conclusões

Ele acordou a pensar que era ela. Esticou-se na cama e coçou-se com vigor. Sentiu o líquido branco escorrer-lhe pelas pernas e deixou-se ficar deitada por mais alguns segundos. Ainda conseguia sentir o cheiro de homem na sua pele. Procurou por ele na cama, mas descobrira-se sozinha.O quarto era invadido pelo delicioso aroma do café. Perguntava-se de onde viria aquele perfume. Levantou-se e dirigiu-se à janela. Nua como estava deixou-se envolver pela brisa nocturna e pelos olhares do casal idoso que morava em frente. Excitou-se perante os olhares de reprovação. Pegou no pénis com determinação e sacudiu-o até perder a força. Ejaculou ali mesmo no parapeito. Cansada pela acção solitária, arrastou-se até à cama. Enrolou-se nos lencóis sujos e desejou não acordar para o dia seguinte...

Encosta-te a mim

"Há quanto tempo não choras?" - perguntei eu.
Ele não sabia responder. Encostou-se ao meu peito e deixou-se estar abandonado. Aspirou fundo o perfume que se soltava do meu soutien e estremeceu.
"Porque não choras agora?" - perguntei eu novamente.
Ele continuou calado. Mas percebi pelo silêncio que o que mais desejava naquele momento, era molhar-me o peito farto com lágrimas.

All we need is love


Noites agitadas

Vejo o meu amor dormir nesta cama de lençóis lavados. Parece sonhar com monstros e interrogações pois o seu corpo agita-se. Abraço-me a ele e suspiro o seu nome. Afago-lhe a cabeleira farta e parece acalmar-se. Enrosca-se a mim e sorri de olhos fechados. Aparentemente encontrou refúgio e com as mãos afasta os fantasmas para longe. Comunico com ele através das batidas do meu coração. Digo-lhe que o dia começa a amanhecer e traço planos para a semana. Ressona levemente e pressinto uma nova vaga de maus sonhos. Debate-se entre os lencóis e atira a almofada para longe. Tosse fortemente e grita impropérios aos seus demónios. Aperto-o nos meus braços e canto-lhe músicas de embalar. Acalma-se finalmente. Tem sido assim todas as noites...
"Com o tempo você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela.Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o alguém da sua vida.Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e principalmente a gostar de quem também gosta de você.O segredo é não correr atrás das borboletas. É cuidar do jardim para que elas venham até você.No final de contas, você vai achar não quem estava procurando, mas quem estava procurando por você".

Mario Quintana
Escrevo como um sopro de vida. Como forma de redenção e espanto.
Escrevo para afastar fantasmas cinzentos e sanguinários.
Escrevo para esquecer as agruras e escrevo para ser feliz.
Sou outra quando me entrego ao prazer solitário da escrita. Quando recolho e aconchego a minha própria alma. Quando a entrego ao papel e a registo em meia dúzia de palavras soltas.
Escrevo porque faz parte de mim e porque sim. Porque quando cheira a molhado aqui dentro sei para onde me devo dirigir.
Escrevo para secar as lágrimas ou para trazê-las à vida.
Escrevo se pretendo retratar o meu sorriso.
E escrevo quando amo e se amo...

Thin Air


A minha esperança diz para mandar foder os amores imperfeitos. Diz para mandar lixar as ilusões. Ordena-me que mande à fava os sentimentos de perda e rejeição. E que bata com o cotovelo na mesa. Também me diz para beber martinis à beira da alma e esquecer que a vida por vezes dói. O meu espírito guerreiro obriga-me a lamber as feridas com carinho. A pensar numa saída para esta dor horrorosa. Obriga-me a sair do lodo e a secar as lágrimas ao sol. Olho-me ao espelho e não gosto do que vejo, por isso forço-me a sorrir. Lá vem a esperança de braços abertos. Abraça-me como a uma filha e dá-me novo alento para prosseguir. Cá está ela a massajar-me o peito. Começa a fazer quentinho dentro de mim e percebo que sou demasiado nova para morrer em vida. Bonita e valente demais para perecer sem glória. É por isso que tenho de continuar a respirar. A respirar.
Enquanto a empurrava contra a parede, vomitava palavras de escárnio. Agarrava-a firmemente pelos cabelos negros e à medida que a ouvia gemer, sentia-se mais forte.Dizia-lhe que não a amava mais. Nunca a tinha amado. Desejara apenas aquele corpo redondo. Os lábios carnudos. Ela não sabia ao certo que espécie de dor a atingia. Se as palavras dele ou a violência com que a manejava. Tinha apenas a certeza de o amar profundamente. Sabia ser-se capaz de esquecer o hálito a desprezo. As nódoas negras e o sexo sem consentimento.Estava agora virada para ele. Olhava-o com firmeza e ternura. Nada do que ele dissesse abalaria o seu amor. E deixando a resistência de lado, levantou a saia de algodão e abriu-se para ele. Queria mostrar-lhe de onde vinha o amor que sentia. Precisava abrir-lhe o caminho para a entrada de um sentimento poderoso e renovado.Ele percebeu e passou a mão pela origem do amor. Deteve-se. Baixou-se e pressentiu o cheiro de um amor esquecido. Entrou pelas profundezas daquele sentimento físico e explorou-o até o corpo balançar.Encostada contra a parede, ela gozava num silêncio histérico. Agarrou-o pelo pescoço e conduziu-o até à boca. Beijou-o com amargura e perda. Assim que percebeu que conquistava terreno, afastou-o rudemente e atirou-o contra a pedra fria do chão.Sentou-se em cima dele e explicou-lhe de que matéria era o amor. Esbofeteou-o até ao orgasmo e tombou ao seu lado.

Tuesday, June 17, 2008

Protesto contra a MGF

A puta da MGF - mutilação genital feminina ou excisão clitoriana, deixa-me com os nervos à flor da pele. Se leram o post abaixo certamente perceberam o que gira em torno desta obsoleta e abominável tradição. A mutilação tem o seu eixo à volta do homem. Os argumentos baseiam-se apenas no prazer destes e nunca no da mulher. Ela não é livre para ter prazer durante o acto sexual. Ela não pode delirar com o sexo em si. A mulher precisa perservar a dignidade e a honra do marido. O mais incrível é que estes argumentos são proferidos por outras mulheres. Seres femininos que passaram igualmente por este tipo de situação e que à partida deveriam lutar contra esta situação horrível.
Um acto destes traz consigo a humilhação, infecções várias, perdas de prazer, dores atrozes na hora do desfloramento e planta em cada rapariga a certeza, que o homem é o ser supremo! Por mais textos que leia sobre este assunto - e acreditem, já li uma série deles - fico sempre atónita. Acabo sempre por perguntar-me porqueé que estas novelas sangrentas mantêm-se vivas. Esta tradição é muitas vezes levada para outros continentes. Imigrantes dos países praticantes da MGF mantêm a puta da tradição quando emigram para terra estranha. Na maior parte das vezes, o país que os acolhe não possui legislação que impeça este tipo de situação. No entanto, já se trabalha no combate à MGF.
O que é peciso é não esquecer. É vital que as vítimas se façam ouvir. Para que um dia se possa acordar num mundo menos cruel para as mulheres.

A puta da MGF - mutilação genital feminina

" 3 milhões de meninas são excisadas a cada ano. Na chamada África Negra, mas também na Indonésia, no Egipto e até na Europa. Há entre 130 e 150 milhões de mulheres no mundo a quem o clitóris foi cortado e esta senegalesa muçulmana a viver na Bélgica é uma delas.Em Lisboa a promover o seu livro e a participar num seminário, Khady Koita fala deste crime de como combatê-lo. Conta no seu livro como foi excisada aos 7 anos " de surpresa": o clitorís foi serrado a sangue frio com uma lâmina velha enquanto três mulheres a seguravam, a dor, o sangue, o silêncio dos adultos. Quando é que alguém lhe explicou o que tinha acontecido e porquê? Nunca. Ninguém me explicou porque suponho, quem faz isso também não sabe porque o faz. E eu também não fiz perguntas.Mas quando começamos a investigar, quando se lê sobre isso e se fala com os "velhos", temos várias respostas: faz-se para que a rapariga possa chegar virgem ao casamento, para que a mulher seja fiel ao marido; outros dizem que é preciso tirar "aquilo" porque se o marido lhe tocar morre, ou então é o bebé ao mascer que pode morrer...A maioria dir-lhe á que é feito para agradar ao marido. Em nome da honra e da dignidade do homem. Para que a mulher não seja demasido gulosa por sexo".

DN, 28 de Setembro de 2006

Luta contra a pobreza


Sem critérios

A voz dentro da cabeça gritava: "stop breathing"! STOP. Alma em espasmos.
"I´m trying to get some sleep"! STOP. Corpo atirado contra a pedra fria do chão.
"Maybe i will find you with somebody else"! STOP. Coração em transe.
"Dark. Blue. Again"! STOP. Respiração entrecortada.
"The things that we runned of". STOP.Drama profundo.
"And the things that they said us". STOP. Corpo dolente e dorido.
"Tough we tried to move over after all that we saw". FIM
Estou atacada pelos nervos. Pela puta da tesão mal correspondida. Pelos versos amadores que me declamaram. Pela dobrada que me obrigaram a comer.
Estou fodida. Mal fodida por uma vida sem sentido e sem paixão. Por um abraço que não veio. Por um beijo com sabor a terra.
Estou enjoada. Não quero este filho. Esta alma. Tenho saudades. Mas está toda a gente longe. Sinto-me desconsolada e desamparada. Cheira mal dentro deste meu armário. As roupas tresandam a ausência.
Tenho dores. Rangem-se-me as articulações. Os ossos dão de si. Os dentes vão caindo. Sei que a puta da velhice vem a caminho.
Faço-me à estrada. Mas está escuro e estes óculos de sol não fazem efeito.
Preciso de um banho...
A casa estava um caos. Louça espalhada pela bancada da cozinha. Um cheiro terrível a cão e gato. Um bafo quente a erva e tabaco. Vómito salpicado pelo mosaico azul e branco. Garrafas de vodca vazias empilhadas fora do caixote do lixo. Preservativos atirados aos pés da cama. E um corpo estendido ao comprido entre a casa-de-banho e o corredor.O gira-discos tocava Nick Cave naquela voz soturna "two thousand years of christian history baby and you ain´t learned to love me yet"...

Estafa


Depois do conhecimento veio a curiosidade. A curiosidade trouxe a vontade. A vontade apareceu acompanhada do desejo. O desejo viu-se reprimido. A repressão não aguentou e gritou de tensão. A tensão fez ferver o sangue. O sangue começou a pulsar. A estafa estava premente. A palavra e a gastura vieram acudir. O medo deu o ar da sua graça. A palavra teve mais força. O gesto nasceu espontâneamente. A luxúria moldou-lhes o corpo. A distância encurtava o passo. A cama era pequena. A ânsia de se atracarem era feroz. Os corpos suados não ganhavam sossego. O suspiro veio como um vapor quente. Estafa. Estafa...

Sem tabus

Sempre fui uma alma sem tabus. O meu corpo limita-se a seguir-lhe o rasto...
As viagens realizadas inconscientes são dolorosas. As realizadas de forma consciente são levemente dolorosas. Compra-se o bilhete umas vezes ao desbarato e outras nem por isso. Quando desconhecemos a nossa paragem, perguntamos ao motorista qual é o destino final. Ás vezes o comboio pára na terra do nunca e outras vezes na terreola dos sem medo. Não existem meios termos, nem meias sensações. As coisas são como são porque a vida não está para contemplações. A viagem prossegue mesmo que tenhamos rasgado o corpo, vendido a alma ou entregue a sexualidade ao primeiro ladrão de tesouros. O bilhete está pago e não há volta a dar. Não existem refeições durante o percurso. Alimentamo-nos de pó e ar seco. Entra tudo no organismo como partículas inócuas. Juntam-se a uma vida de interrogações e impulsos. Não há necessidade de água, sumos ou vinho. Matamos a sede com o suor do nosso rosto, com a angústia de uma vida vivida e embalada a seco. Ali somos todos carne para canhão. O nosso destino é abastecer o grande monstro que é a vida.Umas vezes partimos com essa consciência, mas na maior parte das vezes levamos debaixo do braço, a ignorância e ingenuidade.

Próxima paragem: vida

Estou dentro do eléctrico. Sozinha. Regresso de uma viagem que me consumiu 4 anos de vida. As saudades dos amigos deixam-me rota e é por eles que volto. Estão à minha espera numa esplanada à beira-rio. Tenho borboletas no estômago. Receio encontrá-los distantes de mim. Decoro as minhas palavras e improviso gestos. Rascunho a preto e branco um sorriso visto e revisto em noites solitárias. O trajecto é feito lentamente. Olho as ruas de Lisboa e sinto-me de novo em casa. Pergunto-me porque bati com a porta e abandonei raízes e asas. Vai entrando gente e outras tantas vão saindo. As conversas são banais e fala-se "da vida da outra sussurrada entre dentes, no marasmo de quem não ri nem chora", como diria o Palma. Aproxima-se o meu ponto de chegada. Já vejo o rio. A vida aproxima-se de mim a passos largos. Mas já não tenho medo. Observo à distância os que me amam e sigo em frente...

Biografia do meu amor terminado

Foi assim que ele terminou com ela. A coisa aconteceu numa tarde quente de Verão. Estavam acampados no bonito e sossegado parque de Aljezur. Os dias passavam à velocidade da luz, porque a paixão tem dessas coisas. E enquanto a noite desdobrava-se num manto negro, aqueles dois corpos explodiam e fragmentavam-se como pedaços coloridos de vidro. Lá fora os grilos garantiam a banda sonora de uma vida.
Durante aqueles dias, ela acreditava que tinha finalmente dado de caras com o amor. Permitia-se pela primeira vez, abandonar o corpo cansado nos braços magros daquele ser de olho azul. Deixava-o entoar a palavra amo-te e derrubara enfim todas as barreiras construídas em anos de solidão.
Naqueles dias felizes e livres, passearam e nadaram pelas cálidas águas alentejanas. Beberam e brindaram à vida. Abraçaram-se como se o dia de amanhã fosse uma vaga esperança perdida. E de repente a peça chegava ao fim. A dor veio silenciosa e serena. Ela não assimilava as palavras. Ouvia-as e sentia-as como alfinetadas. Dobrava-se em si mesmoa sem entender que o amor despedia-se dela ali mesmo."És tão bonita", dizia ele. "Tão meiga e inteligente", continuava. E no fim, o golpe final. O medo do compromisso. A incapacidade de amar alguém tão especial.
E depois a noite veio. Abafada e carregada de torpor. Entraram para a tenda. Ela aninhou-se no peito dele. E chorou...

Mulheres

As mulheres deste mundo precisam unir-se. Precisamos entender as vidas paralelas porque passam milhares de mulheres por este planeta afora.É inadmissível que as mulheres da Guiné continuem a praticar e a sofrer com a mutilação genital feminina.
É arrepiante saber que no mundo árabe, as mulheres são encaradas com objectos. Esposas, mães, filhas, noras valem menos que a própria vida. São desprezadas, humilhadas, espancadas, violadas e em ultima instância, mortas. E muitas vezes a morte chega da pior maneira possível. Lapidação, envenenamento, imolação e por aí fora. Que venha o o homem-diabo e escolha.
Na China os bébes do sexo feminino são afogados à nascença devido à implementação do controlo de natalidade. A lei bradava aos quatro ventos que os casais deveriam ficar-se por um único filho. De preferência rapaz. O resultado foi desastroso. Hoje em dia o governo chinês adopta outra postura face à discriminação declarada contra o sexo feminino.
O Ruanda foi o palco sangrento de violações em massa. Os assassinos hutus engravidavam por violentamente mulheres tutsi para que elas gerassem os seus filhos. Como bem sabem, o Ruanda sofreu um genocídio atroz.
E o que dizer da violência doméstica que assola lares junto ao nosso? Quantos mulheres já morreram nos braços de um marido abusador, tirano e execrável? Quero saber até quando nós mulheres, iremos suportar situações como estas? Que alguém me diga, quando nos iremos juntar para lutar contra a discriminação, a humilhação e o sofrimento.


Obs: aqui em Angola existe a OMA (Organização das Mulheres Angolanas, filiada do maior partido angolano - MPLA). O apoio dado às mulheres é parco. Existem pouquíssimos abrigos. E sempre que uma mulher procura aquela organização a queixar-se do marido violento, a solução imediata é reunir um grupo de mulheres para infligirem uma surra ao prevaricador.

Põe-te em guarda

"Disseram-me um dia Rita, põe-te em guarda.
Aviso-te, a vida é dura põe-te em guarda.
Cerra os dois punhos e andor, põe-te em guarda.
E eu disse adeus à desdita e lancei mãos à aventura
E ainda aqui está quem falou!"

Sérgio Godinho, in a história da minha vida (da autora)

Tuesday, June 10, 2008

Wednesday, June 4, 2008

12 FRASES PARA VIVER

1- Quero-te não por quem és, mas por quem sou quando estou contigo.
2 - Ninguém merece as tuas lágrimas, e quem as merecer não te fará chorar.
3 - Só porque alguém não te ama como tu queres, não significa que não te ame com toda a sua alma.
4 - Um verdadeiro amigo é aquele que pega na tua mão e te toca o coração.
5 - A pior forma de se sentir a falta de uma pessoa é estar sentada ao seu lado e saber que nunca a vais poder ter.
6 - Nunca deixes de sorrir, nem sequer quando estás triste porque nunca sabes quem se poderá apaixonar pelo teu sorriso.
7 - Podes ser simplesmente uma pessoa para o mundo, mas para alguém o mundo és tu.
8 - Não passes o tempo com alguém que não esteja disposto a passá-lo contigo.
9 - Quem sabe Deus quer que conheças muita gente errada antes de conheceres a pessoa certa, para que quando a finalmente conheceres, saibas estar agradecido.
10 - Não chores porque acabou, sorri porque aconteceu.
11 - Haverá sempre quem te desiluda, assim o que tens de fazer é seguir confiando e só ser mais cuidadoso em quem confias duas vezes.
12 - Não te esforces tanto, as melhores coisas acontecem quando menos as esperas.

Gabriel García Marquéz