Tuesday, December 14, 2010

Na colheita

O ano está a findar. É inevitável o balanço anual. Na realidade, nunca fui muito de fazer balanços. Creio que por achar que todos os anos eram iguais. Talvez estivesse a ser injusta comigo mesma, não sei. Sei que este ano, foi um ano estupendo. E ocorre-me que provavelmente, os outros anos pareciam-me iguais porque eram tempos de semeadura. Semeei muito, diga-se de passagem e este ano, este ano par, foi tal como disse, estupendo. Foram meses de pura colheita ou de conquista se preferirem.
Arranjei a minha casa e é lá finalmente o meu refúgio, desta cidade que me consome a mil à hora, pese o facto de eu viver isolada, distante do fervilhar social que em nada me atrai. A minha casa é maravilhosa. O ar flui, a energia desliza sem barreiras. E o meu quarto é o supra sumo da minha toca onde descanso os ossos, sosssego a alma e sonho sem parar.
Este ano viajei. Foi o ano onde os meus horizontes se abriram em catadupa sem qualquer controlo da minha parte. Estive no Brasil, país irmão, quente e acolhedor. Não me vejo a morar lá, mas senti-me em casa. Não sei se porque a língua é a mesma ou se porque o povo que habita aquela terra é hospitaleiro até às margens.
Estive também no Chile onde em cinco frenéticos dias conheci gente de todo o mundo. E onde fiz amigos, espero eu, para o resto da vida, ainda que a distância pareça assustadora.
Nestes doze meses, evoluí muito como tradutora, embora não tenha qualquer licenciatura na área. E graças a este facto, descobri finalmente o que quero fazer da minha vida. Sim, 34 anos depois, encontrei o meu rumo e embora me encontre a tremer de medo por querer seguir o meu caminho, a descoberta deixou-me e deixa-me em estado em êxtase.
E para rematar, daqui a um mês regressarei a casa por um mês. E anseio por estar novamente com os meus amados amigos à volta de uma mesa, de cerveja na mão e cigarro na boca e com a alma relaxada e disponível.
Foi um ótimo ano e sei lá eu se alguma vez tive um ano tão formidável como este. Para o próximo ano, não planeio nada. Gostava que fosse tão maravilhoso como este foi, mas deixarei isso a cuidado do Universo. Confio-lhe os caminhos da minha vida e o que tiver de ser, será!
Shalom.

A vida a cores


Wednesday, December 8, 2010

Adieu mon chérie

Acho que comecei a dizer adeus ao G. quando ainda me encontrava no Brasil e o estado sublime em que me encontrava por estar de férias, amorteceu em muito, o choque que senti quando ele disse-me que estava apaixonado por outra mulher. E parecia que ela sentia o mesmo, mas ao melhor estilo de Romeu e Julieta (porque com ele as coisas são sempre difíceis), ambos negaram o amor e tentaram seguir caminho.
Passado um ano a tentar conquistá-lo, a ser-lhe leal e amiga, esta informação só não me deu cabo do espírito porque tal como disse, estava de férias. O que não me impediu de soltar meia dúzia de lágrimas e de desabafar no colo da minha querida amiga Isabella. Eu, sem saber, dizia-lhe adeus de cada vez que ia para a varanda contemplar o céu do Recife enquanto fumava um cigarro, companheiro das horas boas e más. Trocámos meia dúzia de emails. Cada um expressou-se como pôde. Eu, amargamente e ele, dócil como um cãozinho orfão. Sempre dócil e educado.
Levei as coisas com calma e confesso que dramatizei um pouco. Sou mulher e pertenço ao signo balança o que dá uma mistura muito pouco sensata. Voltei para Angola sem responder ao último email que ele me enviou em que se bem me recordo, enaltecia as valorosas propriedades da amizade.
Regressei e tentei ignorá-lo. Ignorei o quanto pude mas as saudades pregaram-me uma valente rasteira e assim que amansei o coração, voltei às boas com ele. Andávamos nas nuvens e as palavras que mais utilizávamos eram: amizade, contente, feliz e saudades. Mas depois, aconteceu alguma coisa que eu desconheço qual seja e ele desapareceu. Foi de férias para uma aldeia qualquer do país dele e desapareceu. Mandei email porque não estava habituada a tanto tempo de ausência virtual. Respondeu-me dócilmente como sempre, prometendo que falaríamos em breve. E passaram-se quase três ou quatro meses. Ás vezes metia conversa com ele no messenger mas pouco falávamos porque estava sempre ocupado e deixámos de trocar palavras no facebook. Pensei cá para mim que devia estar mesmo ocupado com alguma coisa. Ás tantas lá me apercebi que era sempre eu a ir ter com ele. A puxar assunto. A chegar-me à frente para matar saudades. E às tantas vi na página dele do facebook que andava a conversar com uma tipa qualquer da América Latina. Tinha tempo para falar com ela, pelos vistos.
Azedei. Azedei e cortei-o de todos os meus contactos sem lhe dizer palavra. Tentei ser racional e manter a amizade for the sake of the universe e também para mostrar alguma maturidade mas, às tantas apercebi-me que ele não me trazia nada de novo. E a amizade era recente e tinha começado a partir de uma curiosidade mulher/homem, mútua. Então, a lógica disse-me que ao bloqueá-lo nada tinha a perder.
Ás vezes sinto saudades das nossas conversas e o primeiro impulso que tenho é de o recuperar e voltar às boas mas depois lembro-me dos motivos de o ter banido. E chego à conclusão que o faria movida pela estúpida esperança e para que as palavras gentis dele, me acariciassem o ego, pois que ele sempre me disse que considerava a minha amizade inestimável.
Os pensamentos já deixaram de me levar ao G. com frequência. Mas se por acaso acontece, entro em conflito perguntando-me se fui sábia em ter banido uma pessoa de boa índole como ele. Se fiz bem em bater-lhe com a porta na cara. Depois acalmo-me e deixo de sentir culpa.
Mereço mais e melhor, embora ainda não saiba onde encontrar mais e melhor. Fiz-lhe o luto e embora ainda esteja a ressacar desta relação platónica, desejo-lhe felicidades. Se um dia tivermos de nos encontrar - sem se que seja apenas em sonhos - muito bem.
Por cá estarei sem procurar ninguém. Vou antes deixar que me encontrem. Quem sabe assim terei o que mereço e o que preciso sem que saiba exactamente o que isso possa ser.