Há pouco escrevi um texto sobre "partir", sobre o que significa para mim este verbo. E no meio do frenesim dos meus dedos a baterem no teclado, de ideias soltas e de conclusões há muito definidas, cheguei a um novelo concreto que me fez perceber porque quero tanto deixar Angola. Existem outros motivos além da minha total falta de afinidade com o país e com as gentes.
Percebi que quero partir para redescobrir-me. Preciso saber quem é a Clara dos trinta e quatro anos. Cheguei com vinte e sete anos e apesar da vida socialmente limitada que levo, experienciei muitas coisas, vi e constatei uma série de factos, uns mais agradáveis que outros e realizei algumas conquistas que me fizeram ver do que sou capaz. Aprendi a não estagnar, a ser franca com os outros ainda que doa e percebi claramente o que não quero para mim. Estou mais una, madura. Sete anos volvidos, penso ser a altura ideal para me voltar a atirar no mundo. E será um novo mundo porque sou em parte uma nova mulher, um novo ser. Um pouco mais completa, mais dona de mim. Não engulo mais sapos. Só faço o que quero. E digo o que me apetece.
Viajei por alguns países e conheci gente nova. Aprendi a dominar a internet a meu favor ou se preferirem, a favor da minha inteligência que está mais afiada do que nunca. Ganhei novas percepções e mais do que nunca sei que o mundo é um horror. Repleto de almas escuras, de calamidades, de pesadelos dominados por monstros de garras afiadas. Mas também sei que o mundo, que este planeta onde habitamos pode ser belo e cheio de gente pronta para nos acolher. Também sei que consoante a minha fé (que muito oscila) terei oportunidades que saberei agarrar. E sei também que depois do desespero vem a esperança. O mundo é uma montanha por conquistar e a minha vontade é soberana.
Chego aos trinta e quatro anos mais estável do que nunca. Caminho sem redes. Sei de onde vim, por onde passei e sei onde quero estar no futuro. Os meus planos não são lineares. Encontrarei imprevistos dolorosos e curiosos pelo caminho e irei sofrer e duvidar de mim. Mas aqui dentro, dentro de mim, do meu coração e da minha cabeça, reside a vontade de dar um salto de fé. A fé em mim e na vida.
Curioso. Hoje a meio da noite acordei com medo. A minha mente viajou em fracções de segundos para a nova vida que quero levar e o meu corpo tremeu. Tremeu de dúvidas e medos. Tremeu com a ideia de enfrentar novos desafios e lembro-me de perguntar a mim mesma, se seria uma decisão sensata. Largar a estabilidade e atirar-me sem asas. Depois voltei a adormecer.
E agora eis-me aqui. A escrever precisamente o contrário. Sou una mas tenho dúvidas e apesar de tudo falta-me a coragem. Ainda...
Mas no meio de tantas dúvidas uma coisa sei ao certo. Ficar em Angola para o resto da vida, está fora de questão. Sinto a alma a reclamar por mais espaço.
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