O pensamento hoje levou-me hoje ao Paulinho Cascavel. O Paulinho Cascavel (alcunha) era meu colega da secundária. Deveríamos ter na altura uns 14 ou 15 anos. Morávamos ao pé um do outro. Não me lembro do dia em que engatámos amizade. Se foi no recreio, em plena aula ou se foi pelo caminho que percorríamos para chegar a casa ou à escola. Sei que a partir do dia em que demos conta da existência um do outro, passámos a ir juntos para a escola.
Ele tinha de passar pelo meu prédio para seguir caminho, então todos os dias esperava por ele, à janela daquele terceiro andar que tanto sofrimento me trouxe, para irmos para as aulas. Não sei quais eram os temas das nossas conversas mas eu gostava muito da companhia dele e tenho a certeza que ele gostava da minha. É curioso como esse tempo parece pertencer a uma outra vida. Como não me consigo visualizar fisicamente e como não recordo as conversas que tinha com os amigos dessa época. Gabo-me de ter boa memória mas muita coisa daqueles anos malditos, desapareceram como pó levado pelo vento quente.
O Paulinho Cascavel tinha essa alcunha porque adorava jogar futebol. Lembro-me de ouvir o meu primo dizer que o Paulinho era um fuçanga com a bola. Parece que ainda vejo a casa dele. Dava para ver da varanda do meu quarto. E parece que ainda o vejo hoje: magro, cabelo liso, olhos castanho vivos.
Reencontrei-o anos depois no autocarro. Ele reconheceu-me. Sentei-me ao pé dele e conversámos como se o tempo não tivesse passado. Também não me lembro da conversa. Só lembro-me de nos encontrarmos e de parecer que o tempo tinha voltado atrás.
Ás vezes o Paulinho vem-me à memória e penso muitas vezes em ir bater à porta da casa dele. Ou de voltar à varanda do meu antigo quarto e olhar indeterminadamente para a casa que o abrigou durante tantos anos.
Não sei nada do Paulinho Cascavel. Se está vivo. Se emigrou. Se é feliz. Ou se lembra-se de mim também e se como eu, pensa em mim com carinho.
Há pessoas de quem gostamos e que não se mantêm na nossa vida. E eu acho isso triste...sim...
2 comments:
Clara que mais triste ainda seria não ter ninguém pra lembrar.
Um abraço moça.
Quem sabe um dia tu encontras ele na net.
Faço coro com o amigo Alves. Beijinhos!
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