Thursday, December 4, 2008

Viver da fé. Só não se sabe fé em quê...

Passados cinco anos perdi o breve encanto que sentia por Angola. Foram poucos os momentos em que me senti orgulhosa por morar neste país. As ultimas eleições foram um deles. As paisagens maravilhosas e assombrosas foram outro. Mas depois olho para o lado e dói-me a alma.
Por ver meninos e meninas de rua brincando na lixeira a céu aberto. Por vê-los ranhosos e de barriga inchada, atravessando as ruas sem olhar para trás. Dói-me a alma ao avistar antigos soldados de guerra sem uma perna, um braço ou alegria no olhar. Foram esses homens que lutaram por uma pátria que agora lhes vira as costas. São esses homens que me assolam os sonhos, sempre de mão esticada, pedindo esmolas e cigarros, encostados aos sinais.
O encanto foi-se esbatendo à medida que entendi o sistema político (ou devo dizer anti-político) que reina sobre este país. O choque foi grande ao perceber que os angolanos são roubados descaradamente por corruptos sem coração. Por gente que habita em mansões de luxo e dorme debaixo do ar-condicionado. Rolando e rebolando sobre a miséria dos outros.
Fé? Como posso ter fé num país que vive de festas e construções megalómanas, enquanto num musseque sem luz e sem ar, morre uma criança de cólera?
É duro morar e saber que nasci num país onde a lei é manipulada consoante os interesses. Onde se dificulta a entrada de mão qualificada.
Fé? Corajosos os angolanos que ainda têm fé por uma terra que lhes suga o tutano. Por uma terra pintada de cinza que caminha a passos largos para a estabilidade económica.
Perdi a minha. A minha fé. E sem fé sinto-me oca. Desesperançada porque os pesadelos ganharam vida. Uma vida paralela à minha. Com correntes e bofetadas incessantes.
Fé?

1 comment:

Conversa Inútil de Roderick said...

É preciso ter sempre fé!
Os combatentes da guerra, portugueses, também foram rapidamente esquecidos, pelos governantes, e ninguém gosta de falar de uma guerra que envergonha toda a gente.
Como o são todas as guerras.
Lutas entre povos irmãos, em que meia duzia colocaram milhares, senão milhões a lutar entre eles como se fossem marionetas comandadas por uma razão desconhecida de muitos.
E vocês ainda continuaram durante muitos anos., uma guerra civil que só vai apagar as marcas daqui a duas três gerações, pelo menos.
Beijos e... fé num futuro melhor.
Para todos nós.
Como tu dizes e o poeta disse: A minha pátria é a lingua portuguesa.
Só assim conseguiremos algo neste mundo cada vez mais, aldeia global.