Wednesday, July 29, 2009

Aventuras

No aeroporto de Israel, no regresso para Angola, uma das zelosas funcionárias perguntava-me:
- De onde é? Quanto tempo esteve no país? Alguém ofereceu-lhe algum presente? Está a levar lama do Mar Morto?
Cai a ficha na minha cabeça. Israel sofre com os ataques palestinos e daí as perguntas. Era preciso cuidado, para o caso de eu me revelar uma viajante ingénua que levasse na mala um presente assassino, dentro de um avião com mais de duzentas pessoas. Respondi:
- Sim, trago lama.
Ela volta à carga:
- Ofereceram-na ou comprou?
Respondo com calma e segurança:
- Fui eu mesma que comprei numa loja de produtos do género.
A zelosa funcionária olha para mim e pede-me que vá para o balcão seguinte onde me abrem a mala. O funcionário de cabelos escuros vasculha-me a mala com ligeireza enquanto me pergunta:
- Leva consigo algum presente?
Suspiro e respondo:
- Não.
- Pode fechar a mala. Boa viagem.
Luto com a minha pequena mala vermelha. E pondero colocar-me em cima dela para a obrigar a fechar a boca de mil fechos. De repente a mala fecha-se, tranco-a com um cadeado (que acabará por ficar no aeroporto Ben Gurion após tira cinto, coloca cinto, tira sapato, põe sapato) e sigo para o check-in. Quando lá chego deparo-me com uma série de viajantes etíopes. Carregam tantas malas, que são precisas quase duas horas para me despachar. Amaldiçoo aquele povo de tez bonita e feições perfeitas e sigo em busca de um café com mesas.
Não posso fumar no recinto, por isso o café não me sabe ao do costume. Chegada a hora, embarco no avião da Ethiopian Airlines, onde o sabor da comida a bordo deixa muito a desejar. Vale-me a simpatia genuína das hospedeiras etíopes e a beleza calma de todas elas que me obriga a questionar a minha própria.
Assim que coloco os pés no aeroporto da Etiópia, interpelo um segurança e pergunto-lhe sem delongas pela ala dos fumadores. Aponta para o fundo do aeroporto e dirijo-me até lá a passos largos. Antes de entrar para a pequena sala, observo as pessoas lá dentro e espanto-me com o fumo denso que pairava no ar. Pareciam-me criminosos, ofegantes por mais uma passa. A que ponto os governos nos obrigaram a chegar. Não acabam com a indústria tabaqueira, mas empurram os fumadores para os corredores da marginalidade. Suspiro e entro lá dentro de tabaqueira em punho. Peço um café e acendo o cigarro. Eu e a minha colega somos as únicas mulheres dentro do covil. Fumei com prazer e preparei-me para mais oito horas de viagem.
Quando chego a Luanda, venho triste. Sem vontade de entrar na estupidez da rotina. Mas ao chegar à sala de controlo da emigração, arregalo os olhos e pergunto-me se cheguei ao país certo. O aeroporto estava remodelado. Mas ainda não tinha visto nada. A sala das bagagens também estava nova em folha e tinham instalado o ar-condicionado. Apesar das novidades, fiquei mais de uma hora à espera da minha pequena mala vermelha (porque há coisas que nunca mudam). Estava esgotada depois de tantas horas de viagem e ainda trazia em mim o cheiro a Israel.
Chego a casa e a família criva-me de perguntas. Mas a energia estava a zeros e resolvi deitar-me. Só acordei no dia seguinte depois de dozes horas non-stop de sono.

2 comments:

L.S. Alves said...

Essas coisas de bombas e paranóias terroristas são uma realidade totalmente estranha para nós que vivemos em países pacíficos.
Mas que bom que correu tudo bem. A única coisa que não me agrada é essa questão de ficarem perseguindo as pessoas por causa dos seus vícios.
Um abraço moça.

Clara said...

É uma realidade estranha de facto. Até mesmo a situação de guerra que Angola viveu por 30 anos é estranha para mim, porque sempre vivi fora do país.
No entanto, é curioso porque em Israel não sentes qualquer tensão. As pessoas andam à vontade nas ruas. Vê-se é muitos soldados e em algumas partes do país, existe controlo militar.
Também não me agrada nada a perseguição que está a ser feita aos fumadores. Não acho justo, na realidade acho uma hipocrisia de todo o tamanho! E infelizmente, acho que com o tempo, a situação vai piorar...
Bj