Sou admiradora ferrenha de Antonio Salas, jornalista espanhol que se infiltra em grupos obscuros durante um certo período de tempo, a fim de denunciar e esclarecer o público sobre verdades dolorosas. Verdades que se encontram à nossa frente, mas que por um motivo ou outro, preferimos ignorar.
Apresento a primeira parte da entrevista que Salas concedeu ao jornalista da revista portuguesa Visão sobre os infelizes e iludidos neo-nazis.
Apresentarei mais tarde, a segunda parte. Leiam porque é deveras esclarecedora...
"Antonio Salas não revela o seu verdadeiro nome nem destapa a cara para a foto. Sabe que a caça começará quando a sua identidade for pública. O jornalista viveu durante quase um ano no meio dos neonazis, como se fosse um deles, a gravar tudo com uma câmara oculta. O seu livro, Diário de Um Skin, foi esta semana editado em Portugal pela D. Quixote, depois de ter sido o maior best-seller em Espanha, em 2003. Ali se descreve um mundo de incoerências, em que latinos idolatram um Hitler que os consideraria sub-humanos. Em que o futebol se transforma num palco político e a prisão numa catapulta para a lenda. E onde se inspira ódio e expira violência.
De onde vem o ódio dos skins?
Do medo. Têm muito medo do que não conhecem e do que não compreendem: homossexuais, estrangeiros, outras raças. Mas esse é um ódio que tem de ser renovado constantemente, senão desaparece.
Diz que 90% dos neonazis se distanciam dos movimentos quando conseguem uma relação estável ou uma família. O nazismo é apenas uma forma de preencherem uma vida vazia?
Eles entram muito jovens e quando atingem a sua primeira relação emocional, quando se casam ou têm filhos, ou quando têm o seu primeiro trabalho sério e entram dentro do capitalismo, compram um carro ou uma casa, aos poucos vão-se desligando do movimento skin.
Escreve que muitos pertencem às classes média-alta e alta. A opção deles também nasce na educação? Os pais alheiam-se ou são coniventes?
Responsabilizo os pais por todos os skins. É impossível que um filho se converta num cabeça rapada e o pai não se dê conta. Se rapa o cabelo, se se enche de tatuagens de suásticas, qualquer pai se apercebe. Acontece que muitos skins provêm de famílias fascistas, que continuam essa tradição de extrema-direita, trocando Salazar ou Franco pela suástica e pelo III Reich.
A ideologia está irremediavelmente cravada nos jovens que conheceu?
Todos têm saída. O mais importante do meu trabalho é ter contribuído para que centenas de rapazes e raparigas abandonassem o movimento, como percebi pelos mails que me mandaram.
Mas largar o movimento não significa deixar de ser racista ou xenófobo...
Claro. O racismo está intimamente ligado ao nacional-socialismo. A minha conclusão foi que uma imensa maioria de rapazes e raparigas são idealistas que realmente acreditam em todas estes disparates da supremacia da raça branca, da Europa branca. Mas uma das coisas que os fez aperceberem-se do absurdo foi saberem quem está por detrás. E foi esse o meu objectivo. Escrevi o Diário de um Skin para eles, para ir mais além do que eles próprios conhecem, explicar-lhes como são utilizados pelos líderes dos clubes de futebol, dos partidos, do tráfico de mulheres. [Um dos cabecilhas que Antonio Salas conheceu é dono de vários bordéis e recruta mulheres africanas e brasileiras, apesar do seu discuros anti-prostituição e anti-imigração.]
Esse racismo é movido por experiências pessoais?
Não porque tiveram uma experiência pessoal, mas porque crêem que a tiveram. O discurso que apreendem todos os dias diz que os imigrantes ocupam o seu posto de trabalho (mesmo que seja um trabalho que nem um português nem um espanhol querem ocupar). A música e as publicações neonazis alimentam esse ódio, para que não deixem de pensar que têm essa experiência pessoal todos os dias.
Os skins mostram-se muito violentos, mas aparentemente só quando estão em grupo.
São uns cobardes, sim. A mim não me preocupa encontrar-me com um ou dois. Todas as suas acções são feitas em manada. São como os lobos: apenas caçam em grupo. O Mário Machado, por exemplo, tem mesmo um blog que se chama Homem Lobo. No fundo, são profundamente cobardes. Há excepções, claro. Alguns cometem assassinatos sozinhos, mas esses são apenas psicopatas.
No meio da sua admiração por Hitler, os neonazis espanhóis e portugueses têm consciência de que o seu ídolo estaria longe de os considerar membros de pleno direito da raça ariana?
Creio que não. Para isso, teriam de ler toda a informação que, acreditam, está manietada pelos judeus. Por exemplo, conheci um tipo que estava a aprender alemão para poder ler «A minha luta» na sua língua original. Chegou a lavar o livro, porque podia ter passado por mãos judias. Eles não se alimentam das fontes de informação que consideram estar contaminadas: recorrem aos trabalhos dos revisionistas. Essa informação diz que não existiram as câmaras de gás, o holocausto, Hitler via toda a Europa como a raça branca pura. Não fazem ideia que nós, latinos, iríamos passar maus momentos às mãos de Hitler."
Apresento a primeira parte da entrevista que Salas concedeu ao jornalista da revista portuguesa Visão sobre os infelizes e iludidos neo-nazis.
Apresentarei mais tarde, a segunda parte. Leiam porque é deveras esclarecedora...
"Antonio Salas não revela o seu verdadeiro nome nem destapa a cara para a foto. Sabe que a caça começará quando a sua identidade for pública. O jornalista viveu durante quase um ano no meio dos neonazis, como se fosse um deles, a gravar tudo com uma câmara oculta. O seu livro, Diário de Um Skin, foi esta semana editado em Portugal pela D. Quixote, depois de ter sido o maior best-seller em Espanha, em 2003. Ali se descreve um mundo de incoerências, em que latinos idolatram um Hitler que os consideraria sub-humanos. Em que o futebol se transforma num palco político e a prisão numa catapulta para a lenda. E onde se inspira ódio e expira violência.
De onde vem o ódio dos skins?
Do medo. Têm muito medo do que não conhecem e do que não compreendem: homossexuais, estrangeiros, outras raças. Mas esse é um ódio que tem de ser renovado constantemente, senão desaparece.
Diz que 90% dos neonazis se distanciam dos movimentos quando conseguem uma relação estável ou uma família. O nazismo é apenas uma forma de preencherem uma vida vazia?
Eles entram muito jovens e quando atingem a sua primeira relação emocional, quando se casam ou têm filhos, ou quando têm o seu primeiro trabalho sério e entram dentro do capitalismo, compram um carro ou uma casa, aos poucos vão-se desligando do movimento skin.
Escreve que muitos pertencem às classes média-alta e alta. A opção deles também nasce na educação? Os pais alheiam-se ou são coniventes?
Responsabilizo os pais por todos os skins. É impossível que um filho se converta num cabeça rapada e o pai não se dê conta. Se rapa o cabelo, se se enche de tatuagens de suásticas, qualquer pai se apercebe. Acontece que muitos skins provêm de famílias fascistas, que continuam essa tradição de extrema-direita, trocando Salazar ou Franco pela suástica e pelo III Reich.
A ideologia está irremediavelmente cravada nos jovens que conheceu?
Todos têm saída. O mais importante do meu trabalho é ter contribuído para que centenas de rapazes e raparigas abandonassem o movimento, como percebi pelos mails que me mandaram.
Mas largar o movimento não significa deixar de ser racista ou xenófobo...
Claro. O racismo está intimamente ligado ao nacional-socialismo. A minha conclusão foi que uma imensa maioria de rapazes e raparigas são idealistas que realmente acreditam em todas estes disparates da supremacia da raça branca, da Europa branca. Mas uma das coisas que os fez aperceberem-se do absurdo foi saberem quem está por detrás. E foi esse o meu objectivo. Escrevi o Diário de um Skin para eles, para ir mais além do que eles próprios conhecem, explicar-lhes como são utilizados pelos líderes dos clubes de futebol, dos partidos, do tráfico de mulheres. [Um dos cabecilhas que Antonio Salas conheceu é dono de vários bordéis e recruta mulheres africanas e brasileiras, apesar do seu discuros anti-prostituição e anti-imigração.]
Esse racismo é movido por experiências pessoais?
Não porque tiveram uma experiência pessoal, mas porque crêem que a tiveram. O discurso que apreendem todos os dias diz que os imigrantes ocupam o seu posto de trabalho (mesmo que seja um trabalho que nem um português nem um espanhol querem ocupar). A música e as publicações neonazis alimentam esse ódio, para que não deixem de pensar que têm essa experiência pessoal todos os dias.
Os skins mostram-se muito violentos, mas aparentemente só quando estão em grupo.
São uns cobardes, sim. A mim não me preocupa encontrar-me com um ou dois. Todas as suas acções são feitas em manada. São como os lobos: apenas caçam em grupo. O Mário Machado, por exemplo, tem mesmo um blog que se chama Homem Lobo. No fundo, são profundamente cobardes. Há excepções, claro. Alguns cometem assassinatos sozinhos, mas esses são apenas psicopatas.
No meio da sua admiração por Hitler, os neonazis espanhóis e portugueses têm consciência de que o seu ídolo estaria longe de os considerar membros de pleno direito da raça ariana?
Creio que não. Para isso, teriam de ler toda a informação que, acreditam, está manietada pelos judeus. Por exemplo, conheci um tipo que estava a aprender alemão para poder ler «A minha luta» na sua língua original. Chegou a lavar o livro, porque podia ter passado por mãos judias. Eles não se alimentam das fontes de informação que consideram estar contaminadas: recorrem aos trabalhos dos revisionistas. Essa informação diz que não existiram as câmaras de gás, o holocausto, Hitler via toda a Europa como a raça branca pura. Não fazem ideia que nós, latinos, iríamos passar maus momentos às mãos de Hitler."
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