São antigos retratos nossos, meu amor. Perdidos entre caixas de cartão, cheiro a bafio e teias de aranha infindáveis. São fotos a preto e branco tiradas na nossa juventude. A brincar na espuma do mar. A torrar ao sol. Ou apenas de mãos dadas.
Foi há tanto tempo, meu amor. Os filhos que concebemos partiram antes de dizermos sim. Levaram com eles a nossa juventude. Não voltaram para nós e foi aí que começaste a envelhecer depressa demais. Já não sorrias com a chegada do sol. Deixaste de me abraçar e elogiar o cheiro do meu café fresco. Deixaste que os teus cabelos negros ficassem brancos como a neve. E que as rugas te pesassem no rosto com o passar das horas.
Estou só, meu amor. O frio dos dias sacode-me os ossos. Luto diariamente para sair do nosso leito. E aguardo pela senhora de negro que por um motivo qualquer, tarda em aparecer. Observo os nossos retratos e pergunto-me pela vida que escorreu entre os dedos como a brisa de Verão. Mas diz-me, meu amor. Estás à minha espera?
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