PARA AS PESSOAS BOAS DO MUNDO, GRITO A PARTIR DE ANGOLA, OS MEUS DESEJOS DE UM NATAL MÁGICO E FELIZ. E APROVEITO PARA DESEJAR TAMBÉM UM PRÓSPERO ANO NOVO. E QUE O PRÓXIMO ANO VENHA COM MAIS LUZ, SABEDORIA, PAZ, AMOR E SAÚDE!
All i ever wanted.All i ever needed is here in my arms.Words are very unnecessary. They could only do harm...
Friday, December 19, 2008
Thursday, December 11, 2008
Ás vezes
Às vezes não sei o que fazer às saudades que sinto de Portugal e dos meus amigos. À falta que me faz caminhar por essas ruas calcetadas de Lisboa. Não sei como gerir esta vida pouco intensa que levo neste país onde nasci. Sinto falta de afectos palpáveis. Das vozes familiares que me amansavam o coração, em dias de luta solitária...
Grande tacho
Eis a última novidade do presidente angolano:
"José Eduardo dos Santos condicionou a realização das próximas eleições presidenciais à aprovação pela Assembleia Nacional da futura constituição de Angola. O chefe de estado colocou a probabilidade de, na nova Carta Magna, o Presidente vir a ser eleito de forma indirecta pelo parlamento e não pelos cidadãos eleitores. O Presidente justificou a probabilidade, dizendo que há uma corrente de opinião que defende a introdução do sufrágio indirecto, com vista à eleição do próximo Presidente da República"
Semanário Factual
Agora pergunto eu: eles andam mesmo a gozar connosco, não é? E gozam à grande porque estão dispostos a ir contra a Constituição diante das nossas barbas!
Friday, December 5, 2008
Thursday, December 4, 2008
Viver da fé. Só não se sabe fé em quê...
Passados cinco anos perdi o breve encanto que sentia por Angola. Foram poucos os momentos em que me senti orgulhosa por morar neste país. As ultimas eleições foram um deles. As paisagens maravilhosas e assombrosas foram outro. Mas depois olho para o lado e dói-me a alma.
Por ver meninos e meninas de rua brincando na lixeira a céu aberto. Por vê-los ranhosos e de barriga inchada, atravessando as ruas sem olhar para trás. Dói-me a alma ao avistar antigos soldados de guerra sem uma perna, um braço ou alegria no olhar. Foram esses homens que lutaram por uma pátria que agora lhes vira as costas. São esses homens que me assolam os sonhos, sempre de mão esticada, pedindo esmolas e cigarros, encostados aos sinais.
O encanto foi-se esbatendo à medida que entendi o sistema político (ou devo dizer anti-político) que reina sobre este país. O choque foi grande ao perceber que os angolanos são roubados descaradamente por corruptos sem coração. Por gente que habita em mansões de luxo e dorme debaixo do ar-condicionado. Rolando e rebolando sobre a miséria dos outros.
Fé? Como posso ter fé num país que vive de festas e construções megalómanas, enquanto num musseque sem luz e sem ar, morre uma criança de cólera?
É duro morar e saber que nasci num país onde a lei é manipulada consoante os interesses. Onde se dificulta a entrada de mão qualificada.
Fé? Corajosos os angolanos que ainda têm fé por uma terra que lhes suga o tutano. Por uma terra pintada de cinza que caminha a passos largos para a estabilidade económica.
Perdi a minha. A minha fé. E sem fé sinto-me oca. Desesperançada porque os pesadelos ganharam vida. Uma vida paralela à minha. Com correntes e bofetadas incessantes.
Fé?
Tuesday, November 18, 2008
Black
I know someday you will have a beautiful life
I know you will be a star in somebody else´s sky
But why? Why can´t it be mine?
Black/Pearl Jam
I know you will be a star in somebody else´s sky
But why? Why can´t it be mine?
Black/Pearl Jam
Friday, November 14, 2008
Thursday, November 6, 2008
Dúvida
Quando penso nesses &/%$#$# dos neonazis portugueses que lutam contra a emigração, ocorre-me apenas uma questão: será que eles se esquecem que os portugueses são dos povos que mais emigram?
Não sei
Juro-te que não sei de que cor são os teus olhos. Também não sei se os teus beijos sabem a sal. Se a tua pele se derrete diante da minha. Juro-te pelo meu coração que não sei o teu nome completo. Se fazes covinha nas bochechas quando te ris. Ou se mordes a língua quando desenhas. Realmente não sei se gostas de dormir à tarde. Se amanheces os dias a sorrir ou a praguejar aos deuses. Não sei se me queres como sou ou se me queres inventar. Juro-te ainda que não sei se gostas de viajar. Se caminhas pelas brumas em dias de amargura. Não sei se tens sentido de humor. Não sei..realmente não sei...
I have a dream...
"I say to you today, my friends, that in spite of the difficulties and frustrations of the moment, I still have a dream. It is a dream deeply rooted in the American dream.
I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: "We hold these truths to be self-evident: that all men are created equal."
I have a dream that one day on the red hills of Georgia the sons of former slaves and the sons of former slaveowners will be able to sit down together at a table of brotherhood.
I have a dream that my four children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character.
I have a dream that one day every valley shall be exalted, every hill and mountain shall be made low, the rough places will be made plain, and the crooked places will be made straight, and the glory of the Lord shall be revealed, and all flesh shall see it together.
This is our hope. This is the faith with which I return to the South. With this faith we will be able to hew out of the mountain of despair a stone of hope. With this faith we will be able to transform the jangling discords of our nation into a beautiful symphony of brotherhood. With this faith we will be able to work together, to pray together, to struggle together, to go to jail together, to stand up for freedom together, knowing that we will be free one day.
This will be the day when all of God's children will be able to sing with a new meaning, "My country, 'tis of thee, sweet land of liberty, of thee I sing. Land where my fathers died, land of the pilgrim's pride, from every mountainside, let freedom ring."
And if America is to be a great nation, this must become true. So let freedom ring from the prodigious hilltops of New Hampshire. Let freedom ring from the mighty mountains of New York. Let freedom ring from the heightening Alleghenies of Pennsylvania!
When we let freedom ring, when we let it ring from every village and every hamlet, from every state and every city, we will be able to speed up that day when all of God's children, black men and white men, Jews and Gentiles, Protestants and Catholics, will be able to join hands and sing in the words of the old Negro spiritual, "Free at last! free at last! thank God Almighty, we are free at last!"
Martin Luther King
I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: "We hold these truths to be self-evident: that all men are created equal."
I have a dream that one day on the red hills of Georgia the sons of former slaves and the sons of former slaveowners will be able to sit down together at a table of brotherhood.
I have a dream that my four children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character.
I have a dream that one day every valley shall be exalted, every hill and mountain shall be made low, the rough places will be made plain, and the crooked places will be made straight, and the glory of the Lord shall be revealed, and all flesh shall see it together.
This is our hope. This is the faith with which I return to the South. With this faith we will be able to hew out of the mountain of despair a stone of hope. With this faith we will be able to transform the jangling discords of our nation into a beautiful symphony of brotherhood. With this faith we will be able to work together, to pray together, to struggle together, to go to jail together, to stand up for freedom together, knowing that we will be free one day.
This will be the day when all of God's children will be able to sing with a new meaning, "My country, 'tis of thee, sweet land of liberty, of thee I sing. Land where my fathers died, land of the pilgrim's pride, from every mountainside, let freedom ring."
And if America is to be a great nation, this must become true. So let freedom ring from the prodigious hilltops of New Hampshire. Let freedom ring from the mighty mountains of New York. Let freedom ring from the heightening Alleghenies of Pennsylvania!
When we let freedom ring, when we let it ring from every village and every hamlet, from every state and every city, we will be able to speed up that day when all of God's children, black men and white men, Jews and Gentiles, Protestants and Catholics, will be able to join hands and sing in the words of the old Negro spiritual, "Free at last! free at last! thank God Almighty, we are free at last!"
Martin Luther King
Wednesday, November 5, 2008
Se fosse americana teria votado no Obama porque:
- representa uma mudança profunda para os padrões americanos
- parece honesto, firme e humilde
- se distanciou da questão rácica, ao fim e ao cabo, ele é americano em primeiro lugar
- parece um político humano, coisa rara no mundo em que se movimenta
- simboliza o "american dream" e o seu discurso revelou isso mesmo.
Aposto que por esta altura, Martin Luther King e Ella Fitzgerald dançam no céu lado a lado graças à vitória de Obama. King estava certissímo quando proferiu no seu discurso visionário os sonhos que tinha para a América do futuro. "I have a dream that one day..."
- representa uma mudança profunda para os padrões americanos
- parece honesto, firme e humilde
- se distanciou da questão rácica, ao fim e ao cabo, ele é americano em primeiro lugar
- parece um político humano, coisa rara no mundo em que se movimenta
- simboliza o "american dream" e o seu discurso revelou isso mesmo.
Aposto que por esta altura, Martin Luther King e Ella Fitzgerald dançam no céu lado a lado graças à vitória de Obama. King estava certissímo quando proferiu no seu discurso visionário os sonhos que tinha para a América do futuro. "I have a dream that one day..."
Tuesday, November 4, 2008
A verdade no escuro - conclusão
Conclusão da entrevista realizada a Antonio Salas, o meu mais novo herói. Mais uma vez, recomendo vivamente a leitura da entrevista.
"O saber não ocupa lugar".
"E há diferenças entre skins portugueses e espanhóis?
Os grupos portugueses são mais consequentes e menos cobardes, na hora das suas actuações públicas. A sua presença mediática também é muito maior. Em Espanha, existem personagens que poderiam ser, como o Mário Machado, elementos de liderança, que cumpriram pena por homicídio, mas não tiveram a mesma presença nos meios de comunicação. Em Portugal, têm mais presença mediática e são mais activos do que os espanhóis.
Essa visibilidade tem consequências: Mário Machado está novamente preso.
Sim, e eles lá dentro não têm vida fácil. Mas, na maioria dos casos, um skin que sai da cadeia continua a ser um imbecil. A prisão serve para se afirmar no movimento, para ganhar poder. O Machado era apenas um porteiro de discoteca e converteu-se num líder político.
Esses exemplos não fortalecem o movimento, ao dar-lhe novos mártires?
É possível que sim, sobretudo em Portugal, por causa da tal projecção nos media. Em Espanha, personagens como Machado, que cumpriram pena, não têm visibilidade nos meios de comunicação. São conhecidos, mas apenas por quem já está dentro da comunidade.
Culpa dos jornalistas?
Nós temos a obrigação de dar a conhecer a realidade social. É para isso que trabalhamos. No caso de Diário de um Skin, recebi algumas críticas, por lhes dar publicidade. Mas a resposta a isso está nas centenas de mails que recebi de miúdos a largar o movimento por se aperceberem que aquilo não era exactamente como lhes contavam.
Quem apoia financeiramente estes grupos?
Distribuidoras discográficas e editoriais, clubes de futebol (que também se alimentam deles: as claques ultra são das maiores consumidoras de material de merchandising). E este apoio é descarado e absoluto.
Por que razão é que os clubes de futebol ajudam as claques com tendências neonazis?
Essa é outra das coisas que não percebia, antes da investigação. Primeiro, porque muitos dos membros de um grupo ultra, como os 1143, em Portugal [Sporting], são sócios do clube. Votantes, que podem decidir quem vai ser o próximo presidente. No caso dos Ultrassur, do Real Madrid, eles apoiavam o «seu» candidato. Mais: eu saí literalmente afónico do estádio, a apoiar a equipa a gritar durante 90 minutos. Ninguém grita mais alto dos que os ultras. E isso até os jogadores notam, sobretudo quando jogam fora. Não lhes importa [aos clubes] que depois, fora do estádio, matem um negro. Daí que os jogadores posem para a fotografia com produtos dos ultra, como fizeram Figo, Guti, Casillas, Raul. Quanto vale um spot publicitário destes? Quanto vale a imagem de um Figo a anunciar os produtos que vendem?
Os clubes fazem tudo o que podem para ajudar a suprimir os neonazis das suas claques?
Só quando matam alguém. Quando ocorre uma morte, os meios de comunicação dão-lhe uma repercussão mediática e os clubes vêem-se obrigados a fazer alguma coisa. Mas é muito difícil para um clube renunciar aos seus ultras. Pelo apoio, pelo merchandising que eles compram. E também por medo. Há o caso de jogadores que foram agredidos por ultras, como aconteceu no Atlético de Madrid, por não lhes dar apoio público. Esse também é um factor a ter em conta.
Qual foi o sentimento que mais experimentou, na sua relação com os neonazis?
O medo. Quando ouço a palavra «medo», lembro-me de La Bodega [um bar de skins, nos subúrbios de Madrid, onde Antonio esteve]. Entrar com uma câmara oculta num sítio com 200 cabeças rapadas... Não sou nenhum valentão. Passei muito mal.
Sentiu muitos momentos de empatia com eles?
Se estamos durante um ano a conviver dia e noite com um grupo de pessoas, a comer com eles, a dormir com eles, a conhecer os seus pais, eles tornam-se os nossos camaradas. Cria-se um vínculo afectivo e eu vivia com a ideia de que os estava a enganar. Houve dois ou três momentos em que senti uma tentação enorme de lhes dizer: «Sou um jornalista que te está a gravar com uma câmara oculta.»
Hoje continua a viver com medo...
Sim. Andam à minha procura por toda a Espanha. Mas, apesar de tudo, aqui em Espanha, eles já se aperceberam que é mais seguro matar vagabundos. As estatísticas mostram que aumentaram o número de homicídios de vítimas sem papéis. O que coincide com o aumento do número de nazis nessa zona.
Foi um polícia que o denunciou aos neonazis. É a prova de que eles estão infiltrados em sectores importantes da sociedade?
Sim. A maior prova é o caso de Lucrecia Perez, assassinada [em 1992] por um guarda civil neonazi. Os skins gostam das armas, do mundo militar, da violência, da hierarquia. Uma imensa maioria, como o caso de Machado, é segurança porque não conseguiu entrar na polícia. Há uma relação directa com as forças militares. Há muitas famílias de militares que apoiaram Franco e Salazar... Os seus filhos e netos tentam seguir os seus passos.
Qual foi o seu preconceito que se revelou mais errado?
Que eram um bando de ignorantes e que era fácil enganá-los. Não fazia ideia das suas ligações ao futebol e ao Islão, por exemplo.
Confessa, no livro, que uma das razões que tornaria este trabalho mais difícil é a sua extrema distância à ideologia nazi. Agora que os conhece melhor do que nunca, despreza-os mais ou compreende-os melhor?
Entendo porque fazem o que fazem, porque pensam o que pensam, mas sei que estão enganados."
"O saber não ocupa lugar".
"E há diferenças entre skins portugueses e espanhóis?
Os grupos portugueses são mais consequentes e menos cobardes, na hora das suas actuações públicas. A sua presença mediática também é muito maior. Em Espanha, existem personagens que poderiam ser, como o Mário Machado, elementos de liderança, que cumpriram pena por homicídio, mas não tiveram a mesma presença nos meios de comunicação. Em Portugal, têm mais presença mediática e são mais activos do que os espanhóis.
Essa visibilidade tem consequências: Mário Machado está novamente preso.
Sim, e eles lá dentro não têm vida fácil. Mas, na maioria dos casos, um skin que sai da cadeia continua a ser um imbecil. A prisão serve para se afirmar no movimento, para ganhar poder. O Machado era apenas um porteiro de discoteca e converteu-se num líder político.
Esses exemplos não fortalecem o movimento, ao dar-lhe novos mártires?
É possível que sim, sobretudo em Portugal, por causa da tal projecção nos media. Em Espanha, personagens como Machado, que cumpriram pena, não têm visibilidade nos meios de comunicação. São conhecidos, mas apenas por quem já está dentro da comunidade.
Culpa dos jornalistas?
Nós temos a obrigação de dar a conhecer a realidade social. É para isso que trabalhamos. No caso de Diário de um Skin, recebi algumas críticas, por lhes dar publicidade. Mas a resposta a isso está nas centenas de mails que recebi de miúdos a largar o movimento por se aperceberem que aquilo não era exactamente como lhes contavam.
Quem apoia financeiramente estes grupos?
Distribuidoras discográficas e editoriais, clubes de futebol (que também se alimentam deles: as claques ultra são das maiores consumidoras de material de merchandising). E este apoio é descarado e absoluto.
Por que razão é que os clubes de futebol ajudam as claques com tendências neonazis?
Essa é outra das coisas que não percebia, antes da investigação. Primeiro, porque muitos dos membros de um grupo ultra, como os 1143, em Portugal [Sporting], são sócios do clube. Votantes, que podem decidir quem vai ser o próximo presidente. No caso dos Ultrassur, do Real Madrid, eles apoiavam o «seu» candidato. Mais: eu saí literalmente afónico do estádio, a apoiar a equipa a gritar durante 90 minutos. Ninguém grita mais alto dos que os ultras. E isso até os jogadores notam, sobretudo quando jogam fora. Não lhes importa [aos clubes] que depois, fora do estádio, matem um negro. Daí que os jogadores posem para a fotografia com produtos dos ultra, como fizeram Figo, Guti, Casillas, Raul. Quanto vale um spot publicitário destes? Quanto vale a imagem de um Figo a anunciar os produtos que vendem?
Os clubes fazem tudo o que podem para ajudar a suprimir os neonazis das suas claques?
Só quando matam alguém. Quando ocorre uma morte, os meios de comunicação dão-lhe uma repercussão mediática e os clubes vêem-se obrigados a fazer alguma coisa. Mas é muito difícil para um clube renunciar aos seus ultras. Pelo apoio, pelo merchandising que eles compram. E também por medo. Há o caso de jogadores que foram agredidos por ultras, como aconteceu no Atlético de Madrid, por não lhes dar apoio público. Esse também é um factor a ter em conta.
Qual foi o sentimento que mais experimentou, na sua relação com os neonazis?
O medo. Quando ouço a palavra «medo», lembro-me de La Bodega [um bar de skins, nos subúrbios de Madrid, onde Antonio esteve]. Entrar com uma câmara oculta num sítio com 200 cabeças rapadas... Não sou nenhum valentão. Passei muito mal.
Sentiu muitos momentos de empatia com eles?
Se estamos durante um ano a conviver dia e noite com um grupo de pessoas, a comer com eles, a dormir com eles, a conhecer os seus pais, eles tornam-se os nossos camaradas. Cria-se um vínculo afectivo e eu vivia com a ideia de que os estava a enganar. Houve dois ou três momentos em que senti uma tentação enorme de lhes dizer: «Sou um jornalista que te está a gravar com uma câmara oculta.»
Hoje continua a viver com medo...
Sim. Andam à minha procura por toda a Espanha. Mas, apesar de tudo, aqui em Espanha, eles já se aperceberam que é mais seguro matar vagabundos. As estatísticas mostram que aumentaram o número de homicídios de vítimas sem papéis. O que coincide com o aumento do número de nazis nessa zona.
Foi um polícia que o denunciou aos neonazis. É a prova de que eles estão infiltrados em sectores importantes da sociedade?
Sim. A maior prova é o caso de Lucrecia Perez, assassinada [em 1992] por um guarda civil neonazi. Os skins gostam das armas, do mundo militar, da violência, da hierarquia. Uma imensa maioria, como o caso de Machado, é segurança porque não conseguiu entrar na polícia. Há uma relação directa com as forças militares. Há muitas famílias de militares que apoiaram Franco e Salazar... Os seus filhos e netos tentam seguir os seus passos.
Qual foi o seu preconceito que se revelou mais errado?
Que eram um bando de ignorantes e que era fácil enganá-los. Não fazia ideia das suas ligações ao futebol e ao Islão, por exemplo.
Confessa, no livro, que uma das razões que tornaria este trabalho mais difícil é a sua extrema distância à ideologia nazi. Agora que os conhece melhor do que nunca, despreza-os mais ou compreende-os melhor?
Entendo porque fazem o que fazem, porque pensam o que pensam, mas sei que estão enganados."
Sim, eu gosto dos ABBA
I have a dream, a song to sing
To help me cope with anything
If you see the wonder of a fairy tale
You can take the future even if you fail
I believe in angels
Something good in everything I see
I believe in angels
When I know the time is right for me
Ill cross the stream - I have a dream
I have a dream, a fantasy
To help me through reality
And my destination makes it worth the while
Pushing through the darkness still another mile
I believe in angels
Something good in everything I see
I believe in angels
When I know the time is right for me
Ill cross the stream - I have a dream
I have a dream/ABBA
To help me cope with anything
If you see the wonder of a fairy tale
You can take the future even if you fail
I believe in angels
Something good in everything I see
I believe in angels
When I know the time is right for me
Ill cross the stream - I have a dream
I have a dream, a fantasy
To help me through reality
And my destination makes it worth the while
Pushing through the darkness still another mile
I believe in angels
Something good in everything I see
I believe in angels
When I know the time is right for me
Ill cross the stream - I have a dream
I have a dream/ABBA
Thursday, October 30, 2008
Eu estava lá. Sentada num banco velho, de costas para a velha árvore. Vi quando abriste a cabeça em dois. Quando retiraste o teu coração com essas mãos nuas. O livro poisado no meu colo estava aberto na página vinte e dois. Os meus dedos acarinhavam as letras que eu não conseguia ler. Mas eu estava lá. De olho arregalado, perplexa diante dos teus gestos...
A verdade no escuro
Sou admiradora ferrenha de Antonio Salas, jornalista espanhol que se infiltra em grupos obscuros durante um certo período de tempo, a fim de denunciar e esclarecer o público sobre verdades dolorosas. Verdades que se encontram à nossa frente, mas que por um motivo ou outro, preferimos ignorar.
Apresento a primeira parte da entrevista que Salas concedeu ao jornalista da revista portuguesa Visão sobre os infelizes e iludidos neo-nazis.
Apresentarei mais tarde, a segunda parte. Leiam porque é deveras esclarecedora...
"Antonio Salas não revela o seu verdadeiro nome nem destapa a cara para a foto. Sabe que a caça começará quando a sua identidade for pública. O jornalista viveu durante quase um ano no meio dos neonazis, como se fosse um deles, a gravar tudo com uma câmara oculta. O seu livro, Diário de Um Skin, foi esta semana editado em Portugal pela D. Quixote, depois de ter sido o maior best-seller em Espanha, em 2003. Ali se descreve um mundo de incoerências, em que latinos idolatram um Hitler que os consideraria sub-humanos. Em que o futebol se transforma num palco político e a prisão numa catapulta para a lenda. E onde se inspira ódio e expira violência.
De onde vem o ódio dos skins?
Do medo. Têm muito medo do que não conhecem e do que não compreendem: homossexuais, estrangeiros, outras raças. Mas esse é um ódio que tem de ser renovado constantemente, senão desaparece.
Diz que 90% dos neonazis se distanciam dos movimentos quando conseguem uma relação estável ou uma família. O nazismo é apenas uma forma de preencherem uma vida vazia?
Eles entram muito jovens e quando atingem a sua primeira relação emocional, quando se casam ou têm filhos, ou quando têm o seu primeiro trabalho sério e entram dentro do capitalismo, compram um carro ou uma casa, aos poucos vão-se desligando do movimento skin.
Escreve que muitos pertencem às classes média-alta e alta. A opção deles também nasce na educação? Os pais alheiam-se ou são coniventes?
Responsabilizo os pais por todos os skins. É impossível que um filho se converta num cabeça rapada e o pai não se dê conta. Se rapa o cabelo, se se enche de tatuagens de suásticas, qualquer pai se apercebe. Acontece que muitos skins provêm de famílias fascistas, que continuam essa tradição de extrema-direita, trocando Salazar ou Franco pela suástica e pelo III Reich.
A ideologia está irremediavelmente cravada nos jovens que conheceu?
Todos têm saída. O mais importante do meu trabalho é ter contribuído para que centenas de rapazes e raparigas abandonassem o movimento, como percebi pelos mails que me mandaram.
Mas largar o movimento não significa deixar de ser racista ou xenófobo...
Claro. O racismo está intimamente ligado ao nacional-socialismo. A minha conclusão foi que uma imensa maioria de rapazes e raparigas são idealistas que realmente acreditam em todas estes disparates da supremacia da raça branca, da Europa branca. Mas uma das coisas que os fez aperceberem-se do absurdo foi saberem quem está por detrás. E foi esse o meu objectivo. Escrevi o Diário de um Skin para eles, para ir mais além do que eles próprios conhecem, explicar-lhes como são utilizados pelos líderes dos clubes de futebol, dos partidos, do tráfico de mulheres. [Um dos cabecilhas que Antonio Salas conheceu é dono de vários bordéis e recruta mulheres africanas e brasileiras, apesar do seu discuros anti-prostituição e anti-imigração.]
Esse racismo é movido por experiências pessoais?
Não porque tiveram uma experiência pessoal, mas porque crêem que a tiveram. O discurso que apreendem todos os dias diz que os imigrantes ocupam o seu posto de trabalho (mesmo que seja um trabalho que nem um português nem um espanhol querem ocupar). A música e as publicações neonazis alimentam esse ódio, para que não deixem de pensar que têm essa experiência pessoal todos os dias.
Os skins mostram-se muito violentos, mas aparentemente só quando estão em grupo.
São uns cobardes, sim. A mim não me preocupa encontrar-me com um ou dois. Todas as suas acções são feitas em manada. São como os lobos: apenas caçam em grupo. O Mário Machado, por exemplo, tem mesmo um blog que se chama Homem Lobo. No fundo, são profundamente cobardes. Há excepções, claro. Alguns cometem assassinatos sozinhos, mas esses são apenas psicopatas.
No meio da sua admiração por Hitler, os neonazis espanhóis e portugueses têm consciência de que o seu ídolo estaria longe de os considerar membros de pleno direito da raça ariana?
Creio que não. Para isso, teriam de ler toda a informação que, acreditam, está manietada pelos judeus. Por exemplo, conheci um tipo que estava a aprender alemão para poder ler «A minha luta» na sua língua original. Chegou a lavar o livro, porque podia ter passado por mãos judias. Eles não se alimentam das fontes de informação que consideram estar contaminadas: recorrem aos trabalhos dos revisionistas. Essa informação diz que não existiram as câmaras de gás, o holocausto, Hitler via toda a Europa como a raça branca pura. Não fazem ideia que nós, latinos, iríamos passar maus momentos às mãos de Hitler."
Apresento a primeira parte da entrevista que Salas concedeu ao jornalista da revista portuguesa Visão sobre os infelizes e iludidos neo-nazis.
Apresentarei mais tarde, a segunda parte. Leiam porque é deveras esclarecedora...
"Antonio Salas não revela o seu verdadeiro nome nem destapa a cara para a foto. Sabe que a caça começará quando a sua identidade for pública. O jornalista viveu durante quase um ano no meio dos neonazis, como se fosse um deles, a gravar tudo com uma câmara oculta. O seu livro, Diário de Um Skin, foi esta semana editado em Portugal pela D. Quixote, depois de ter sido o maior best-seller em Espanha, em 2003. Ali se descreve um mundo de incoerências, em que latinos idolatram um Hitler que os consideraria sub-humanos. Em que o futebol se transforma num palco político e a prisão numa catapulta para a lenda. E onde se inspira ódio e expira violência.
De onde vem o ódio dos skins?
Do medo. Têm muito medo do que não conhecem e do que não compreendem: homossexuais, estrangeiros, outras raças. Mas esse é um ódio que tem de ser renovado constantemente, senão desaparece.
Diz que 90% dos neonazis se distanciam dos movimentos quando conseguem uma relação estável ou uma família. O nazismo é apenas uma forma de preencherem uma vida vazia?
Eles entram muito jovens e quando atingem a sua primeira relação emocional, quando se casam ou têm filhos, ou quando têm o seu primeiro trabalho sério e entram dentro do capitalismo, compram um carro ou uma casa, aos poucos vão-se desligando do movimento skin.
Escreve que muitos pertencem às classes média-alta e alta. A opção deles também nasce na educação? Os pais alheiam-se ou são coniventes?
Responsabilizo os pais por todos os skins. É impossível que um filho se converta num cabeça rapada e o pai não se dê conta. Se rapa o cabelo, se se enche de tatuagens de suásticas, qualquer pai se apercebe. Acontece que muitos skins provêm de famílias fascistas, que continuam essa tradição de extrema-direita, trocando Salazar ou Franco pela suástica e pelo III Reich.
A ideologia está irremediavelmente cravada nos jovens que conheceu?
Todos têm saída. O mais importante do meu trabalho é ter contribuído para que centenas de rapazes e raparigas abandonassem o movimento, como percebi pelos mails que me mandaram.
Mas largar o movimento não significa deixar de ser racista ou xenófobo...
Claro. O racismo está intimamente ligado ao nacional-socialismo. A minha conclusão foi que uma imensa maioria de rapazes e raparigas são idealistas que realmente acreditam em todas estes disparates da supremacia da raça branca, da Europa branca. Mas uma das coisas que os fez aperceberem-se do absurdo foi saberem quem está por detrás. E foi esse o meu objectivo. Escrevi o Diário de um Skin para eles, para ir mais além do que eles próprios conhecem, explicar-lhes como são utilizados pelos líderes dos clubes de futebol, dos partidos, do tráfico de mulheres. [Um dos cabecilhas que Antonio Salas conheceu é dono de vários bordéis e recruta mulheres africanas e brasileiras, apesar do seu discuros anti-prostituição e anti-imigração.]
Esse racismo é movido por experiências pessoais?
Não porque tiveram uma experiência pessoal, mas porque crêem que a tiveram. O discurso que apreendem todos os dias diz que os imigrantes ocupam o seu posto de trabalho (mesmo que seja um trabalho que nem um português nem um espanhol querem ocupar). A música e as publicações neonazis alimentam esse ódio, para que não deixem de pensar que têm essa experiência pessoal todos os dias.
Os skins mostram-se muito violentos, mas aparentemente só quando estão em grupo.
São uns cobardes, sim. A mim não me preocupa encontrar-me com um ou dois. Todas as suas acções são feitas em manada. São como os lobos: apenas caçam em grupo. O Mário Machado, por exemplo, tem mesmo um blog que se chama Homem Lobo. No fundo, são profundamente cobardes. Há excepções, claro. Alguns cometem assassinatos sozinhos, mas esses são apenas psicopatas.
No meio da sua admiração por Hitler, os neonazis espanhóis e portugueses têm consciência de que o seu ídolo estaria longe de os considerar membros de pleno direito da raça ariana?
Creio que não. Para isso, teriam de ler toda a informação que, acreditam, está manietada pelos judeus. Por exemplo, conheci um tipo que estava a aprender alemão para poder ler «A minha luta» na sua língua original. Chegou a lavar o livro, porque podia ter passado por mãos judias. Eles não se alimentam das fontes de informação que consideram estar contaminadas: recorrem aos trabalhos dos revisionistas. Essa informação diz que não existiram as câmaras de gás, o holocausto, Hitler via toda a Europa como a raça branca pura. Não fazem ideia que nós, latinos, iríamos passar maus momentos às mãos de Hitler."
Thursday, October 23, 2008
Não sei se receio a morte ou a vida
Evito pensar na morte. Dói-me a sua definição.
Penso mais vezes na vida. Nesta vida que ando a levar. Na vida que as pessoas levam.
A ideia de morrer angustia-me. Pesa-me aqui dentro. Dentro de mim.
Viver tem os seus segredos e esperanças. Esperança de um dia o teu caminho se cruzar com o meu. E acho que é por isso que também vivo.
Não me imagino morta. Fechada dentro de um caixão. Á disposição dos vermes e da intemporalidade.
Mas imagino-me velha. De cabelos brancos e sorriso sábio. De quem amou e foi amada.
Sim, pensar na morte fere-me. Pensar que nunca mais existirei. Pensar que nunca mais irei sentir dor ou frio.
A vida também me dói por vezes. Como quando chamaste-me fria e calculista. Mas estavas zangado e só por isso a ferida sarou sem que eu tivesse de a lamber.
Este desconhecimento profundo em relação à morte é estranho e magnético ao mesmo tempo. Não sei se depois de partir, irei directamente para os portões de Hades. Ou se o meu destino será a casa do todo-o-poderoso.
Mas nesta vida não acredito em Deus nem no Diabo. Nesta vida sou o que vejo e por vezes sou apenas o que sinto...
Penso mais vezes na vida. Nesta vida que ando a levar. Na vida que as pessoas levam.
A ideia de morrer angustia-me. Pesa-me aqui dentro. Dentro de mim.
Viver tem os seus segredos e esperanças. Esperança de um dia o teu caminho se cruzar com o meu. E acho que é por isso que também vivo.
Não me imagino morta. Fechada dentro de um caixão. Á disposição dos vermes e da intemporalidade.
Mas imagino-me velha. De cabelos brancos e sorriso sábio. De quem amou e foi amada.
Sim, pensar na morte fere-me. Pensar que nunca mais existirei. Pensar que nunca mais irei sentir dor ou frio.
A vida também me dói por vezes. Como quando chamaste-me fria e calculista. Mas estavas zangado e só por isso a ferida sarou sem que eu tivesse de a lamber.
Este desconhecimento profundo em relação à morte é estranho e magnético ao mesmo tempo. Não sei se depois de partir, irei directamente para os portões de Hades. Ou se o meu destino será a casa do todo-o-poderoso.
Mas nesta vida não acredito em Deus nem no Diabo. Nesta vida sou o que vejo e por vezes sou apenas o que sinto...
Correr faz-me bem à alma. E ao corpo. Este corpo que se torna inerte e velho com o passar das experiências.
A banda Rage Against The Machine acompanha-me nesta corrida louca. Em que ultrapasso velhotes, crianças, adolescentes e ladrões.
E enquanto corro esta corrida alucinada, ultrapasso-me a mim mesma. Desintoxico medos. Desamores. Frustrações. E energias densas acumuladas em mim como se fossem mercúrio.
Vejo a manto da noite cobrir o dia que passou veloz enquanto esforço os músculos e respiro. Respiro e sinto. Sinto e Respiro. E torno a correr. Como se disso dependesse a minha vida. Ou a minha sanidade mental...
A banda Rage Against The Machine acompanha-me nesta corrida louca. Em que ultrapasso velhotes, crianças, adolescentes e ladrões.
E enquanto corro esta corrida alucinada, ultrapasso-me a mim mesma. Desintoxico medos. Desamores. Frustrações. E energias densas acumuladas em mim como se fossem mercúrio.
Vejo a manto da noite cobrir o dia que passou veloz enquanto esforço os músculos e respiro. Respiro e sinto. Sinto e Respiro. E torno a correr. Como se disso dependesse a minha vida. Ou a minha sanidade mental...
Wednesday, October 15, 2008
Pérola II
Há algum tempo que não lia uma entrevista tão interessante. O entrevistado é um médico e escritor brasileiro, que lançou o livro "Heróis de Verdade".
A entrevista é extensa, mas vale a pena...
Isto É - Quem são os heróis de verdade?
Roberto Shinyashiki: Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de primeira classe. O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados. Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa. Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa possa se orgulhar da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros. São pessoas que sabem pedir desculpas e admitir que erraram.
Isto É - O sr. citaria exemplos?
Shinyashiki: Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia. Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida. Eles são meus heróis. Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem. Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito "100% Jardim Irene". É uma pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana. Em países como Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídio do que homicídio. Por que tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher que, embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro.
Isto É - Qual o resultado disso?
Shinyashiki: Paranóia e depressão cada vez mais precoces. O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece. A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança. Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas. Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.
Isto É - Por quê?
Shinyashiki: O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência.Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras. Disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa.Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei-a na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.
Isto É - Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?
Shinyashiki: Isso vem do vazio que sentimos. A gente continua valorizando os heróis. Tive um professor de filosofia que dizia: "Quando você quiser entender a essência do ser humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham". Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarréia. Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo.A gente tem de parar de procurar super-heróis. Porque se o super-herói não segura a onda, todo mundo o considera um fracassado.
Isto É - Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?
Shinyashiki: Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz minha vida fluir mais facilmente. Há várias coisas que eu queria e não consegui. Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos. Com uma criança especial, eu aprendi que ou eu a amo do jeito que ela é ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse.Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo. O resto foram apostas e erros. Dia desses apostei na edição de um livro que não deu certo. Um amigão me perguntou: "Quem decidiu publicar esse livro?" Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.
Isto É - Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?
Shinyashiki: O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las. São três fraquezas. A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança. Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno.Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards.
Isto É - Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Shinyashiki: A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras da sociedade. A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais. A segunda loucura é: Você tem de estar feliz todos os dias. A terceira é: Você tem que comprar tudo o que puder. O resultado é esse consumismo absurdo. Por fim, a quarta loucura: Você tem de fazer as coisas do jeito certo. Jeito certo não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento. Você pode ser feliz tomando sorvete, ficando em casa com a família ou com amigos verdadeiros, levando os filhos para brincar ou indo a praia ou ao cinema. Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes. Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz: "Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero aproveitá-la e ser feliz".Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas.Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis ou ações, mas sim de ter esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida."
A entrevista é extensa, mas vale a pena...
Isto É - Quem são os heróis de verdade?
Roberto Shinyashiki: Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de primeira classe. O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados. Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa. Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa possa se orgulhar da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros. São pessoas que sabem pedir desculpas e admitir que erraram.
Isto É - O sr. citaria exemplos?
Shinyashiki: Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia. Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida. Eles são meus heróis. Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem. Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito "100% Jardim Irene". É uma pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana. Em países como Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídio do que homicídio. Por que tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher que, embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro.
Isto É - Qual o resultado disso?
Shinyashiki: Paranóia e depressão cada vez mais precoces. O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece. A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança. Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas. Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.
Isto É - Por quê?
Shinyashiki: O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência.Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras. Disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa.Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei-a na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.
Isto É - Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?
Shinyashiki: Isso vem do vazio que sentimos. A gente continua valorizando os heróis. Tive um professor de filosofia que dizia: "Quando você quiser entender a essência do ser humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham". Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarréia. Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo.A gente tem de parar de procurar super-heróis. Porque se o super-herói não segura a onda, todo mundo o considera um fracassado.
Isto É - Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?
Shinyashiki: Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz minha vida fluir mais facilmente. Há várias coisas que eu queria e não consegui. Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos. Com uma criança especial, eu aprendi que ou eu a amo do jeito que ela é ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse.Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo. O resto foram apostas e erros. Dia desses apostei na edição de um livro que não deu certo. Um amigão me perguntou: "Quem decidiu publicar esse livro?" Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.
Isto É - Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?
Shinyashiki: O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las. São três fraquezas. A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança. Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno.Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards.
Isto É - Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Shinyashiki: A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras da sociedade. A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais. A segunda loucura é: Você tem de estar feliz todos os dias. A terceira é: Você tem que comprar tudo o que puder. O resultado é esse consumismo absurdo. Por fim, a quarta loucura: Você tem de fazer as coisas do jeito certo. Jeito certo não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento. Você pode ser feliz tomando sorvete, ficando em casa com a família ou com amigos verdadeiros, levando os filhos para brincar ou indo a praia ou ao cinema. Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes. Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz: "Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero aproveitá-la e ser feliz".Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas.Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis ou ações, mas sim de ter esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida."
Pérola I
"Os imigrantes devem adaptar-se às novas sociedades que os recebem e estas têm igualmente de se adaptar. Só graças a uma estratégia criativa de integração dos imigrantes os países podem assegurar que estes enriquecem a sociedade de acolhimento, em vez de trazerem instabilidade (...) os imigrantes fazem parte da solução, não do problema”.
Koffi Annan - antigo secretário da ONU
Koffi Annan - antigo secretário da ONU
Monday, October 13, 2008
É a solidão meu amor..
Que mitiga os meus passos e segue-me a alma em tempos de penumbra.
É esta falta de companhia que me sacode e verga o corpo nas noites frias.
É este desejo cego de te pertencer sem limites. Que me permite a tua ausência em dias assim.
Afundo-me nesta cama larga e procuro o teu perfume amadeirado entre os lençóis mil vezes usados.
O rádio toca melodias tristes e o meu pobre coração acompanha o ritmo lento e pesado da minha respiração nocturna.
Voo até ti em sonhos cinzentos para descobrir que não estás lá. Para descobrir que fugiste das correntes com que tentei prender-te.
É desta solidão que te falo, meu amor...
Que mitiga os meus passos e segue-me a alma em tempos de penumbra.
É esta falta de companhia que me sacode e verga o corpo nas noites frias.
É este desejo cego de te pertencer sem limites. Que me permite a tua ausência em dias assim.
Afundo-me nesta cama larga e procuro o teu perfume amadeirado entre os lençóis mil vezes usados.
O rádio toca melodias tristes e o meu pobre coração acompanha o ritmo lento e pesado da minha respiração nocturna.
Voo até ti em sonhos cinzentos para descobrir que não estás lá. Para descobrir que fugiste das correntes com que tentei prender-te.
É desta solidão que te falo, meu amor...
Música favorita do momento/estado de espírito actual
When I look into your eyes I can see a love restrained
But darlin' when I hold you
Don't you know I feel the same
Nothin' lasts forever
And we both know hearts can change
And it's hard to hold a candle
In the cold November rain
We've been through this such a long long time
Just tryin' to kill the pain
If we could take the time to lay it on the line
I could rest my head
Just knowin' that you were mine
All mine
So if you want to love me then darlin' don't refrain
Or I'll just end up walkin'
In the cold November rain
Guns and Roses/November Rain
But darlin' when I hold you
Don't you know I feel the same
Nothin' lasts forever
And we both know hearts can change
And it's hard to hold a candle
In the cold November rain
We've been through this such a long long time
Just tryin' to kill the pain
If we could take the time to lay it on the line
I could rest my head
Just knowin' that you were mine
All mine
So if you want to love me then darlin' don't refrain
Or I'll just end up walkin'
In the cold November rain
Guns and Roses/November Rain
A queridíssima Sílvia incumbiu-me no seu blog: http://reflexosilvia.blogs.sapo.pt/ de fazer um acróstimo com o meu nome. Então cá vai:
Curiosa
Lutadora
Alegre
Relaxada
Amiga
Thursday, October 9, 2008
Encosta-te a mim
Encosta-te a mim, nós já vivemos cem mil anos
Encosta-te a mim, talvez eu esteja a exagerar
Encosta-te a mim, dá cabo dos teus desenganos
Não queiras ver quem eu não sou, deixa-me chegar
Chegado da guerra,fiz tudo para sobreviver
Em nome da terra,
No fundo para te merecer
Recebe-me bem,
Não desencantes os meus passos
Faz de mim o teu herói, não quero adormecer.
Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
E o que não vivi, hei-de inventar contigo
Sei que não sei às vezes entender o teu olhar
Mas quero-te bem, encosta-te a mim...
Jorge Palma
Encosta-te a mim, talvez eu esteja a exagerar
Encosta-te a mim, dá cabo dos teus desenganos
Não queiras ver quem eu não sou, deixa-me chegar
Chegado da guerra,fiz tudo para sobreviver
Em nome da terra,
No fundo para te merecer
Recebe-me bem,
Não desencantes os meus passos
Faz de mim o teu herói, não quero adormecer.
Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
E o que não vivi, hei-de inventar contigo
Sei que não sei às vezes entender o teu olhar
Mas quero-te bem, encosta-te a mim...
Jorge Palma
Wednesday, October 8, 2008
Massacre em Juarez
Juarez fica no México. É uma terra pobre, entalada na fronteira que separa o México dos Estados Unidos. Desde os anos 90 que Juarez tem perdido as suas jovens mulheres. São torturadas, violadas, mutiladas e finalmente mortas à mão de gente influente. O governo conhece os números e a polícia também. As organizações dos direitos humanos e jornalistas mexicanos têm dado voz às mães das jovens vítimas. Mas a impunidade continua. E vai continuar. O governo mexicano não acredita em assassinos em série e minimiza a morte e o desaparecimento de tantas mulheres.
"Durante anos, Diana Valdez cobriu, como jornalista, os assassinatos de mulheres em Ciudad Juarez. Ela conseguiu juntar dados suficientes para botar muita gente na cadeia. Mas nada foi feito. Aqui extraímos uma passagem de seu livro “Colheita de Mulheres. Safari no Deserto Mexicano”, publicado em Espanha em 2005.
“Apesar das afirmações das autoridades, esses crimes não tinham nada de normal e já eram muitos. Desde 1993, jovenzinhas, inclusive meninas de apenas 12 anos, eram violadas, estranguladas e mutiladas. Durante os últimos dez anos, mais de quatrocentas mulheres foram assassinadas e uma quantidade indeterminada delas permanece como desaparecidas.
Sagrario González, de 17 anos, que trabalhava como operária em uma maquilhadora, desapareceu em abril de 1998 ao sair do trabalho. Depois de vários dias, seu corpo foi encontrado em um terreno baldio a leste da fábrica onde trabalhava. As autoridades disseram que a jovem foi estuprada, estrangulada e apunhalada. Em 1996, outras oito mulheres forma localizadas em uma região deserta de Juárez, conhecida como Lomas de Poleo, perto de El Paso, Texas. (...) No início, achei que esses crimes eram obra de um par de depravados assassinos, protegidos pela polícia graças a seus vínculos com o submundo. Havia indícios disso. Depois, fiquei sabendo que havia algo muito mais oculto e complexo por trás dessa colheita de mulheres. Pelo que vi, os criminosos eram homens poderosos que gozavam de influência nas mais altas esferas do governo mexicano. Mas os investigadores mexicanos, que sabiam que esses homens escolhiam suas vítimas entre as jovenzinhas das famílias mais pobres, não fizeram nada para detê-los”.
"Durante anos, Diana Valdez cobriu, como jornalista, os assassinatos de mulheres em Ciudad Juarez. Ela conseguiu juntar dados suficientes para botar muita gente na cadeia. Mas nada foi feito. Aqui extraímos uma passagem de seu livro “Colheita de Mulheres. Safari no Deserto Mexicano”, publicado em Espanha em 2005.
“Apesar das afirmações das autoridades, esses crimes não tinham nada de normal e já eram muitos. Desde 1993, jovenzinhas, inclusive meninas de apenas 12 anos, eram violadas, estranguladas e mutiladas. Durante os últimos dez anos, mais de quatrocentas mulheres foram assassinadas e uma quantidade indeterminada delas permanece como desaparecidas.
Sagrario González, de 17 anos, que trabalhava como operária em uma maquilhadora, desapareceu em abril de 1998 ao sair do trabalho. Depois de vários dias, seu corpo foi encontrado em um terreno baldio a leste da fábrica onde trabalhava. As autoridades disseram que a jovem foi estuprada, estrangulada e apunhalada. Em 1996, outras oito mulheres forma localizadas em uma região deserta de Juárez, conhecida como Lomas de Poleo, perto de El Paso, Texas. (...) No início, achei que esses crimes eram obra de um par de depravados assassinos, protegidos pela polícia graças a seus vínculos com o submundo. Havia indícios disso. Depois, fiquei sabendo que havia algo muito mais oculto e complexo por trás dessa colheita de mulheres. Pelo que vi, os criminosos eram homens poderosos que gozavam de influência nas mais altas esferas do governo mexicano. Mas os investigadores mexicanos, que sabiam que esses homens escolhiam suas vítimas entre as jovenzinhas das famílias mais pobres, não fizeram nada para detê-los”.
Friday, September 26, 2008
Aviso à navegação: o ilustre escritor José Saramago tem um blog. Pois é, parece que o homem decidiu aderir ao mundo infindável da blogoesfera. Isto depois de ter dito que iria escrever sempre à mão e que jamais iria aderir às novas tecnologias.
Não sou entusiasta da obra do prémio Nobel, mas espero mudar de opinião com os seus escritos divulgados em http://caderno.josesaramago.org
Não sou entusiasta da obra do prémio Nobel, mas espero mudar de opinião com os seus escritos divulgados em http://caderno.josesaramago.org
Wednesday, September 24, 2008
E os dias passam. Passam. Passam assim sem te dares conta.
És inundado pelo delicioso cheiro a maçã polvilhada com canela.
Mas os dias passam. E passam. Não se detêm diante dos teus prazeres.
A cama redonda que compraste há dias ainda não conhece o teu corpo.
Porque os dias passam. Passam. Passam. E deixam no ar o odor a água salgada.
És inundado pelo delicioso cheiro a maçã polvilhada com canela.
Mas os dias passam. E passam. Não se detêm diante dos teus prazeres.
A cama redonda que compraste há dias ainda não conhece o teu corpo.
Porque os dias passam. Passam. Passam. E deixam no ar o odor a água salgada.
Thursday, September 18, 2008
Da minha safra
I
Terra vermelha é o que mais vê da janela do avião. Debruça-se para ver melhor as casas apinhadas e a pouca vegetação que se agigantam para o receber. Sente um frio na barriga porque de repente apercebe-se que a vida vai mudar da água para o vinho. Fecha os olhos e pensa nos amigos que deixou para trás. Ainda não pousou os pés em Angola mas já se arrepende da decisão de vir para o país que o viu nascer mas que abandonou com tenra idade.
Quando a porta do grande pássaro se abre, sente o ar quente e abafado. Percebe através das vidraças do pequeno aeroporto o movimento de gente e deseja que o pai ali esteja para o levar rumo ao desconhecido. O barulho dentro da sala onde espera pela mala é ensurdecedor e a demora pela bagagem exaspera-o. Quando por fim vê os seus pertences, decide caminhar em passos firmes para a saída onde encontra o pai de rosto envelhecido mas de sorriso aberto. Abraçam-se e entram no carro. Felizmente rodam a cidade embalados pela frescura do ar condicionado. Não presta atenção às palavras do pai e vai suspirando à medida que vê lixo empilhado nas ruas, crianças ranhosas e em cuecas a correr entre ratos e porcos pretos e a condução inconsequente de motoristas sem medo da morte.
II
Quatro anos se passaram e algumas coisas mudaram para melhor. Habituou-se ao caos da cidade e aplaudiu as melhorias feitas um pouco por todo o país. Deixava-se incentivar pelos pais e pelos poucos amigos que fizera e acreditava ter razões para continuar no país. Mas secretamente, deitado na cama à noite, sonhava com a terra onde crescera.
Tinha encontrado um bom emprego e sentia-se feliz com o trabalho que desenvolvia. Dava-se bem com os colegas e combinavam saídas juntos. As sextas feiras eram sagradas e ao som da kizomba e do rock, sacudia o corpo num frenesim apenas explicado pela luta interna com que se debatia diariamente.
Mantinha dois namoricos ao mesmo tempo mas com nenhuma pensava casar. Elas tentavam agarrá-lo com danças sensuais, gestos explícitos e doçuras treinadas em casa. Mas ele sabia fugir-lhes, não se prendendo a nada nem a ninguém.
Aos fins-de-semana pegava no carro e ia para longe da cidade. Refugiava-se na praia sozinho com os seus livros e observava o mar e o pôr-do-sol, imaginando a vida que poderia construir na terra que o viu nascer ou voltando para os braços da terra onde deixara raízes e amores perdidos.
III
E um dia conheceu uma mulher encantadora de longos cabelos negros que nada tinha a ver consigo. Ela era espontânea, bem humorada e tinha uma independência felina que o fascinara. Largou os namoricos e cercou-a de todas as maneiras. Foi uma luta renhida porque embora ela desejasse cair-lhe nos braços, fugia dele como o diabo da cruz. Até ao dia em que ele lhe disse que ia partir para a terra de onde nunca devia ter saído. Ela chorou e implorou para que ele ficasse. Cantou-lhe ao ouvido e fez promessas de amor. E o romance entre os dois foi vivido intensamente. Nunca casaram mas tiveram uma filha. Ela trabalhava numa ONG e dedicava grande parte do tempo às actividades profissionais, faltando a muitos compromissos familiares e descurando a criação da filha.
E numa noite fria de cacimbo, ela partiu-lhe o coração dizendo que se ia embora. Ele agarrou-se à filha e perguntou-lhe porque partia e para onde. Disse-lhe que o país era pequeno demais para ela e que o amor se tinha reduzido a pó. Um pó que se colava à pele e que dava comichão.
Ela apanhou o primeiro avião do dia seguinte. Ele soube mais tarde que ela estava na África Sul mas em momento nenhum pensou ir atrás dela. Sozinho com a filha, pensou regressar ao país que abandonara quatro anos antes. E agora tinha um bom motivo para voltar.
Mas qualquer coisa dentro dele fê-lo mudar de ideias. Até hoje não sabe se foi o olhar doce da filha. O medo de regressar. Ou o amor pela terra que o viu nascer.
Terra vermelha é o que mais vê da janela do avião. Debruça-se para ver melhor as casas apinhadas e a pouca vegetação que se agigantam para o receber. Sente um frio na barriga porque de repente apercebe-se que a vida vai mudar da água para o vinho. Fecha os olhos e pensa nos amigos que deixou para trás. Ainda não pousou os pés em Angola mas já se arrepende da decisão de vir para o país que o viu nascer mas que abandonou com tenra idade.
Quando a porta do grande pássaro se abre, sente o ar quente e abafado. Percebe através das vidraças do pequeno aeroporto o movimento de gente e deseja que o pai ali esteja para o levar rumo ao desconhecido. O barulho dentro da sala onde espera pela mala é ensurdecedor e a demora pela bagagem exaspera-o. Quando por fim vê os seus pertences, decide caminhar em passos firmes para a saída onde encontra o pai de rosto envelhecido mas de sorriso aberto. Abraçam-se e entram no carro. Felizmente rodam a cidade embalados pela frescura do ar condicionado. Não presta atenção às palavras do pai e vai suspirando à medida que vê lixo empilhado nas ruas, crianças ranhosas e em cuecas a correr entre ratos e porcos pretos e a condução inconsequente de motoristas sem medo da morte.
II
Quatro anos se passaram e algumas coisas mudaram para melhor. Habituou-se ao caos da cidade e aplaudiu as melhorias feitas um pouco por todo o país. Deixava-se incentivar pelos pais e pelos poucos amigos que fizera e acreditava ter razões para continuar no país. Mas secretamente, deitado na cama à noite, sonhava com a terra onde crescera.
Tinha encontrado um bom emprego e sentia-se feliz com o trabalho que desenvolvia. Dava-se bem com os colegas e combinavam saídas juntos. As sextas feiras eram sagradas e ao som da kizomba e do rock, sacudia o corpo num frenesim apenas explicado pela luta interna com que se debatia diariamente.
Mantinha dois namoricos ao mesmo tempo mas com nenhuma pensava casar. Elas tentavam agarrá-lo com danças sensuais, gestos explícitos e doçuras treinadas em casa. Mas ele sabia fugir-lhes, não se prendendo a nada nem a ninguém.
Aos fins-de-semana pegava no carro e ia para longe da cidade. Refugiava-se na praia sozinho com os seus livros e observava o mar e o pôr-do-sol, imaginando a vida que poderia construir na terra que o viu nascer ou voltando para os braços da terra onde deixara raízes e amores perdidos.
III
E um dia conheceu uma mulher encantadora de longos cabelos negros que nada tinha a ver consigo. Ela era espontânea, bem humorada e tinha uma independência felina que o fascinara. Largou os namoricos e cercou-a de todas as maneiras. Foi uma luta renhida porque embora ela desejasse cair-lhe nos braços, fugia dele como o diabo da cruz. Até ao dia em que ele lhe disse que ia partir para a terra de onde nunca devia ter saído. Ela chorou e implorou para que ele ficasse. Cantou-lhe ao ouvido e fez promessas de amor. E o romance entre os dois foi vivido intensamente. Nunca casaram mas tiveram uma filha. Ela trabalhava numa ONG e dedicava grande parte do tempo às actividades profissionais, faltando a muitos compromissos familiares e descurando a criação da filha.
E numa noite fria de cacimbo, ela partiu-lhe o coração dizendo que se ia embora. Ele agarrou-se à filha e perguntou-lhe porque partia e para onde. Disse-lhe que o país era pequeno demais para ela e que o amor se tinha reduzido a pó. Um pó que se colava à pele e que dava comichão.
Ela apanhou o primeiro avião do dia seguinte. Ele soube mais tarde que ela estava na África Sul mas em momento nenhum pensou ir atrás dela. Sozinho com a filha, pensou regressar ao país que abandonara quatro anos antes. E agora tinha um bom motivo para voltar.
Mas qualquer coisa dentro dele fê-lo mudar de ideias. Até hoje não sabe se foi o olhar doce da filha. O medo de regressar. Ou o amor pela terra que o viu nascer.
Auto
32 anos empoleirada à janela da vida sem nada para ver além dos limites da estrada negra que jazia ao fundo da rua.
32 anos sem conceber o amor de ser amada ou de morrer extenuada nos braços do primeiro ladrão de sonhos.
32 anos apodrecida dentro do armário sem portas. Encaixada como marionete entre roupas velhas e esburacadas com cheiro a naftalina.
32 anos orfã de alma e de pais. Criada pela avó rigorosa e de língua afiada que passava por idosa bondosa e paciente com aquela neta que não saía da janela.
32 anos virgem e carente de afagos e objectivos.
32 anos a arranjar coragem para largar a vida de janela e começar a viver como faziam as outras.
32 anos a libertar-se de complexos e tristezas profundas.
32 anos para aprender a sorrir.
E ela agora ri com vigor. Como se a vida começasse aos 32 anos. Sem bagagens pesadas demais e sem pesadelos habitados por monstros de dentes grandes e pele brilhante.
32 anos sem conceber o amor de ser amada ou de morrer extenuada nos braços do primeiro ladrão de sonhos.
32 anos apodrecida dentro do armário sem portas. Encaixada como marionete entre roupas velhas e esburacadas com cheiro a naftalina.
32 anos orfã de alma e de pais. Criada pela avó rigorosa e de língua afiada que passava por idosa bondosa e paciente com aquela neta que não saía da janela.
32 anos virgem e carente de afagos e objectivos.
32 anos a arranjar coragem para largar a vida de janela e começar a viver como faziam as outras.
32 anos a libertar-se de complexos e tristezas profundas.
32 anos para aprender a sorrir.
E ela agora ri com vigor. Como se a vida começasse aos 32 anos. Sem bagagens pesadas demais e sem pesadelos habitados por monstros de dentes grandes e pele brilhante.
Wednesday, September 10, 2008
Desde que vim morar para cá que tenho uma visão bastante crítica e dura do sistema de governação dos angolanos e da assombrosa falta de consciência cívica da maioria da população. Mas depois destas eleições, devo dizer que estou bastante orgulhosa do show de democracia e transparência que Angola deu aos restantes países africanos.
Tuesday, September 9, 2008
Angola foi a votos
Angola viveu o seu momento histórico pacificamente. Fomos todos a votos e de seguida (conforme o comunicado do governo) recolhemo-nos em casa até ao dia seguinte. Apesar da falta de organização detectada em algumas assembleias de voto, o processo eleitoral decorreu de forma transparente e foi visionado por observadores internacionais.
Angola mostra ao mundo que está empenhada na democracia e que não pretende repetir o terrível conflito vivido em 92.
Sem muita surpresa, a vitória esmagadora foi para o partido no poder. O MPLA conquistou nada mais nada menos do que 81% dos votos contra os 10% dos votos angariados pela UNITA, maior partido da oposição e responsável há dezasseis anos atrás pelo retorno do conflito armado.
Apesar de todos sabermos que os governantes do MPLA não passam de um bando de corruptos, o povo escolheu-os para governar esta Angola em desenvolvimento. O governo terá a chance de terminar obras megalómonas, de desenvolver ainda mais a economia, de atirar-nos areia para os olhos e continuar a sacar o pão da boca dos infelizes.
Votei no MPLA porque era preciso, mas não tenho esperança que eles ajam com honestidade...
Angola mostra ao mundo que está empenhada na democracia e que não pretende repetir o terrível conflito vivido em 92.
Sem muita surpresa, a vitória esmagadora foi para o partido no poder. O MPLA conquistou nada mais nada menos do que 81% dos votos contra os 10% dos votos angariados pela UNITA, maior partido da oposição e responsável há dezasseis anos atrás pelo retorno do conflito armado.
Apesar de todos sabermos que os governantes do MPLA não passam de um bando de corruptos, o povo escolheu-os para governar esta Angola em desenvolvimento. O governo terá a chance de terminar obras megalómonas, de desenvolver ainda mais a economia, de atirar-nos areia para os olhos e continuar a sacar o pão da boca dos infelizes.
Votei no MPLA porque era preciso, mas não tenho esperança que eles ajam com honestidade...
Monday, September 1, 2008
O meu querido Luciano Alves, do blog "Máquina de Letras" sugeriu que escrevessemos numa lista de cinco tópicos, o que preferíamos fazer ao invés de ver a propaganda eleitoral dos partidos na televisão. A unica coisa que ele pediu foi criatividade nas respostas. Como de criativa não tenho nada, cá vão as minhas opções:
1- fazer amor com o amor da minha vida
2- comer moamba de galinha
3- ver CSI Las Vegas no AXN
4- escrever poesia
5- estar na rua a sentir o cheiro a terra molhada
1- fazer amor com o amor da minha vida
2- comer moamba de galinha
3- ver CSI Las Vegas no AXN
4- escrever poesia
5- estar na rua a sentir o cheiro a terra molhada
Living for the city
A boy is born in hard time Mississippi
Surrounded by four walls that ain´t so pretty
His parents give him love and affection
To keep him strong moving in the right direction
Living just enough, just enough for the city
His father works some days for fourteen hours
And you can bet he barely makes a dollar
His mother goes to scrub the floors for many
And youd best believe she hardly gets a penny
Living just enough, just enough for the city
His sisters black but she is shonuff pretty
Her skirt is short but lord her legs are sturdy
To walk to school shes got to get up early
Her clothes are old but never are they dirty
Living just enough, just enough for the city
His hair is long, his feet are hard and gritty
He spends his life walking the streets of new york city
Hes almost dead from breathing in air pollution
He tried to vote but to him theres no solution
Living just enough, just enough for the city
I hope you hear inside my voice of sorrow
And that it motivates you to make a better tomorrow
This place is cruel no where could be much colder
If we dont change the world will soon be over
Living just enough, stop giving just enough for the city!
Stevie Wonder
Surrounded by four walls that ain´t so pretty
His parents give him love and affection
To keep him strong moving in the right direction
Living just enough, just enough for the city
His father works some days for fourteen hours
And you can bet he barely makes a dollar
His mother goes to scrub the floors for many
And youd best believe she hardly gets a penny
Living just enough, just enough for the city
His sisters black but she is shonuff pretty
Her skirt is short but lord her legs are sturdy
To walk to school shes got to get up early
Her clothes are old but never are they dirty
Living just enough, just enough for the city
His hair is long, his feet are hard and gritty
He spends his life walking the streets of new york city
Hes almost dead from breathing in air pollution
He tried to vote but to him theres no solution
Living just enough, just enough for the city
I hope you hear inside my voice of sorrow
And that it motivates you to make a better tomorrow
This place is cruel no where could be much colder
If we dont change the world will soon be over
Living just enough, stop giving just enough for the city!
Stevie Wonder
Wednesday, August 27, 2008
Tuesday, August 26, 2008
Monday, August 25, 2008
Angola é um país vasto com cerca de 1.246.700 km2 de território. Depois da guerra a maior parte das pessoas partiu rumo a Luanda, cidade capital que rebenta pelas costuras e recebe de braços entreabertos estrangeiros vindos de todo o mundo. O governo está obcecado por Luanda e tem feito nesta cidade trabalhos de construção um pouco por todo o lado. Cheira a campanha eleitoral e por isso vemos homens a calcetar ruas, pontes a serem pintadas, novas estradas e demolições de obras históricas que dão lugar a prédios novos em folha.
Angola tem paisagens de cortar a respiração. Onde é possível ver-se quilómetros de terra sem se ver um ser humano. Tem mar até dizer chega. Rios profundos e carregados de lendas. E tem zonas belissímas perdidas no mapa, votadas ao abandono e à pobreza. Há gente a viver nessas zonas. Sobrevivem da agricultura e vendem os produtos na beira da estrada poeirenta.
Porque será que este governo não expande o seu raio de acção para estes locais? Porque não dá início a trabalhos de construção e gera postos de trabalho a quem por lá vive? Porque é que o Ministério do Turismo não ergue resorts, hotéis, pousadas e afins noutros pontos deste belo e mal aproveitado país?
Porque é que não deixam Luanda em paz? De onde vem esta pulsão que pretende fazer de Luanda o reflexo do Dubai?
Angola tem paisagens de cortar a respiração. Onde é possível ver-se quilómetros de terra sem se ver um ser humano. Tem mar até dizer chega. Rios profundos e carregados de lendas. E tem zonas belissímas perdidas no mapa, votadas ao abandono e à pobreza. Há gente a viver nessas zonas. Sobrevivem da agricultura e vendem os produtos na beira da estrada poeirenta.
Porque será que este governo não expande o seu raio de acção para estes locais? Porque não dá início a trabalhos de construção e gera postos de trabalho a quem por lá vive? Porque é que o Ministério do Turismo não ergue resorts, hotéis, pousadas e afins noutros pontos deste belo e mal aproveitado país?
Porque é que não deixam Luanda em paz? De onde vem esta pulsão que pretende fazer de Luanda o reflexo do Dubai?
Friday, August 22, 2008
Thursday, August 21, 2008
Tuesday, August 19, 2008
Love will tears apart
When the routine bites hard
And ambitions are low
And the resentment rides high
But emotions wont grow
And were changing our ways,
Taking different roads
Then love, love will tear us apart again
Why is the bedroom so cold
Turned away on your side?
Is my timing that flawed,
Our respect run so dry?
Yet theres still this appeal
That weve kept through our lives
Love, love will tear us apart again
Do you cry out in your sleep
All my failings expose?
Get a taste in my mouth
As desperation takes holdIs it something so good
Just cant function no more?
When love, love will tear us apart again
Joy Division
And ambitions are low
And the resentment rides high
But emotions wont grow
And were changing our ways,
Taking different roads
Then love, love will tear us apart again
Why is the bedroom so cold
Turned away on your side?
Is my timing that flawed,
Our respect run so dry?
Yet theres still this appeal
That weve kept through our lives
Love, love will tear us apart again
Do you cry out in your sleep
All my failings expose?
Get a taste in my mouth
As desperation takes holdIs it something so good
Just cant function no more?
When love, love will tear us apart again
Joy Division
Monday, August 11, 2008
Ontem ao final do dia, a minha mãe olhou para mim com ar de quem não me via há séculos e perguntou-me:
- o que queres fazer tu do teu futuro?
Eu olhei dentro dos olhos dela e com um sorriso nos lábios disse:
- quero ir de férias para o Brasil no próximo ano e comprar carro este ano.
Ela não disse mais nada. Creio que não era essa a resposta que queria ouvir...
- o que queres fazer tu do teu futuro?
Eu olhei dentro dos olhos dela e com um sorriso nos lábios disse:
- quero ir de férias para o Brasil no próximo ano e comprar carro este ano.
Ela não disse mais nada. Creio que não era essa a resposta que queria ouvir...
Ir ao cinema
Ir ao cinema nesta terra tem coisas que se lhe digam. Quando vou ver filmes comerciais (o que felizmente é raro, porque se há coisa que detesto é pagar para ver filmes que não me ponham a pensar), encontro sempre uma espécie de gente a qual apelido de barulhenta e sem noção-do-que-é-estar-numa-sala-de-cinema.
Quando dou por ela, ouço telefones a tocar e o dono ou dona do respectivo, a falar aos altos berros como se estivesse na mesa do café. Também acontece alguém pôr-se em amena cavaqueira com o companheiro do lado e ali mesmo desatar a contar as amarguras e felicidades desta vida. Também acontece levarem as crianças que por qualquer motivo se põem aos berros e a correr de um lado para o outro. Se eu quisesse distracções não ia ao cinema. Bastava-me ficar em casa sentada no sofá a ver o TVC1.
Portanto, chega a uma altura em que mando calar a gentalha. Mas mando calar sem maneiras, porque gente mal-educada desconhece as boas maneiras. Umas vezes resulta e outras nem por isso. Nessas alturas só me resta abstrair-me e ignorar os matumbos que falam e discutem com o ecrã.
Quando dou por ela, ouço telefones a tocar e o dono ou dona do respectivo, a falar aos altos berros como se estivesse na mesa do café. Também acontece alguém pôr-se em amena cavaqueira com o companheiro do lado e ali mesmo desatar a contar as amarguras e felicidades desta vida. Também acontece levarem as crianças que por qualquer motivo se põem aos berros e a correr de um lado para o outro. Se eu quisesse distracções não ia ao cinema. Bastava-me ficar em casa sentada no sofá a ver o TVC1.
Portanto, chega a uma altura em que mando calar a gentalha. Mas mando calar sem maneiras, porque gente mal-educada desconhece as boas maneiras. Umas vezes resulta e outras nem por isso. Nessas alturas só me resta abstrair-me e ignorar os matumbos que falam e discutem com o ecrã.
No sábado sempre fui ao cinema. Vi o Batman - o cavaleiro negro. Fiquei deveras espantada por ver o filme já em cartaz. Gostei. Confesso que não sou fã do herói morcego e que só vi o filme por causa do Heath Ledger. Queria ver como se safou ele como o odioso Joker. Precisava ver de que forma se entregou ao papel que lhe tirou o sono. Não fiquei desiludida, nem assombrada. Saí de lá a pensar que o Jack Nicholson como Joker foi mais expressivo. Mas talvez não seja justo da minha parte fazer comparações, especialmente quando o sir Michael Caine diz em público que o Heath Ledger devia receber um óscar póstumo...
Friday, August 8, 2008
O mundo está doente. Mas isso já nós sabemos
Pois é, fim-de-semana à porta e eu sem nada combinado. Já nem sei se puderei ir ao cinema porque a minha amiga-pronta-para-ir-ao-cinema-comigo, arranjou gajo e já estão a ver o filme, não é? Fim de semana romântico a dois sem espaço para a amiga-que-já-tem idade-para ter-namorado.
Mas não faz mal. Eu entretenho-me bem sozinha. Basta-me ter os canais AXN/ Lusomundo, o ipod carregado e o computador à mão de semear...
Mas não faz mal. Eu entretenho-me bem sozinha. Basta-me ter os canais AXN/ Lusomundo, o ipod carregado e o computador à mão de semear...
Tuesday, August 5, 2008
Na sexta-feira vi um filme com o Heath Ledger. Não, não foi o Batman. O filme é de 2002 e chama-se "The four feathers" e passa-se no Sudão ( tanta coisa há a dizer sobre o Sudão).
Nunca fui particularmente fã do falecido actor. Mas qualquer coisa doce no olhar do Ledger - é sempre assim que me cativam - fez-me sentir pena por ele ter partido tão cedo e por nunca o ter conhecido...
Nunca fui particularmente fã do falecido actor. Mas qualquer coisa doce no olhar do Ledger - é sempre assim que me cativam - fez-me sentir pena por ele ter partido tão cedo e por nunca o ter conhecido...
Friday, August 1, 2008
Serei uma idiota?
Por desejar-lhe felicidades sinceras quando cá dentro o meu coração se rasga de dor, por saber que ele escolheu um caminho longe do meu?
Diálogo de tirar o folêgo
Vivo em Angola e estou prestes a fazer 32 anos. Sou independente financeiramente, embora não possa sair de casa dos meus pais porque as casas são carissímas. Tenho um trabalho que adoro. Não tenho muitas amigas, mas estou prestes a comprar um carro em folha. Aparentemente a minha vida é porreira, certo? Sou saudável, inteligente, não passo fome e passo sempre as minhas férias fora do país, portanto, é uma boa vida esta que ando a levar, certo? Errado! Porquê? Eis o episódio:
Vou ao meu cabeleireiro habitual e sento-me na cadeira. Evito falar sobre mim porque detesto que falem da minha vida nas minhas costas. Sorrio e sou simpática como sempre. De repente a rapariga que me atende pergunta:
-Estás a ficar bonita para o marido, não é?
Dou o meu melhor sorriso amarelo e respondo segura de mim:
- Marido? E eu lá sou casada?!
Ela volta à carga com ar espantado:
-Xéé! Então é para o namorado.
- Não tenho namorado...
- Não tens namorado como? Quantos anos tens?
Por esta altura, a raiva já começava a consumir-me o fígado. Contei até dez e disse:
- Tenho 31, porquê? Com essa idade sou obrigada a ter homem, é?
- Não quis ofender, só achei estranho. Mulher angolana dessa idade sem marido...
Por esta altura, já estava em posição de ataque. Pronta para saltar ao pescoço da gaja. Mas depois lembrei-me que estava em Angola. As coisas aqui são mesmo assim. Eu sou uma alienígena. Um ser estranho e infeliz. E mal ela sabe que nem filhos tenho. Aposto que é mais fácil ser-se solteira em NY...
Vou ao meu cabeleireiro habitual e sento-me na cadeira. Evito falar sobre mim porque detesto que falem da minha vida nas minhas costas. Sorrio e sou simpática como sempre. De repente a rapariga que me atende pergunta:
-Estás a ficar bonita para o marido, não é?
Dou o meu melhor sorriso amarelo e respondo segura de mim:
- Marido? E eu lá sou casada?!
Ela volta à carga com ar espantado:
-Xéé! Então é para o namorado.
- Não tenho namorado...
- Não tens namorado como? Quantos anos tens?
Por esta altura, a raiva já começava a consumir-me o fígado. Contei até dez e disse:
- Tenho 31, porquê? Com essa idade sou obrigada a ter homem, é?
- Não quis ofender, só achei estranho. Mulher angolana dessa idade sem marido...
Por esta altura, já estava em posição de ataque. Pronta para saltar ao pescoço da gaja. Mas depois lembrei-me que estava em Angola. As coisas aqui são mesmo assim. Eu sou uma alienígena. Um ser estranho e infeliz. E mal ela sabe que nem filhos tenho. Aposto que é mais fácil ser-se solteira em NY...
Thursday, July 31, 2008
Dias estranhos no trabalho. A revista mudou de direcção. E agora o novo editor e director executivo está a ver-se grego para levar a revista a bom porto. Não sabe enviar anexos através do mail, não tem pachorra para escolher fotografias e limita-se editar. Além de me querer sobrecarregar com trabalho, parece querer ser apenas uma figura decorativa no escritório e ter o seu nome estampado na primeira página da revista.
Dias cinzentos se aproximam....
Dias cinzentos se aproximam....
Wednesday, July 30, 2008
E um assalto aqui tão perto
A pastelaria onde costumo ir foi assaltada às 9 da manhã. Segundo as testemunhas, um rapaz vindo do nada entrou na esplanada com uma arma na mão. Ordenou às pessoas sentadas na esplanada que lhe entregassem os haveres. O pessoal obedeceu porque morrer aquela hora e num dia normal não é nada interessante.
O guarda da pastelaria não teve tempo de reagir. Parece que a AKM dele estava guardada a franca distância.
O guarda da pastelaria não teve tempo de reagir. Parece que a AKM dele estava guardada a franca distância.
Friday, July 25, 2008
Indefinições
Palavra de honra! Não sei se sou portuguesa ou angolana. Deixem-me à mercê das minhas indefinições, caramba!
Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é...Autenticidade.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.
Charles Chaplin
E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é...Autenticidade.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.
Charles Chaplin
O governo brasileiro resolveu acabar ou pelo menos diminuir as mortes na estrada. Os acidentes de viação acontecem a torto e a direito porque na maioria das vezes os condutores estão embriagados.
Essa realidade acontece também em Angola. Aos fins-de-semana é ver os animais soltos pelas ruas atrás do volante e encharcados em álcool. Existem cartazes publicitários espalhados pela cidade a apelar ao bom senso, mas de nada adianta. Todas as sextas-feiras a polícia posiciona-se em pontos estratégicos para combater esta realidade dolorosa e evitável. E durante duas noites tentam proteger e atenuar os danos provocados pelo consumo excessivo de bebidas alcoolicas.
É fodido saberes que perdeste quem amas por causa da irresponsabilidade de alguém. Também Angola precisa de uma lei seca.
Essa realidade acontece também em Angola. Aos fins-de-semana é ver os animais soltos pelas ruas atrás do volante e encharcados em álcool. Existem cartazes publicitários espalhados pela cidade a apelar ao bom senso, mas de nada adianta. Todas as sextas-feiras a polícia posiciona-se em pontos estratégicos para combater esta realidade dolorosa e evitável. E durante duas noites tentam proteger e atenuar os danos provocados pelo consumo excessivo de bebidas alcoolicas.
É fodido saberes que perdeste quem amas por causa da irresponsabilidade de alguém. Também Angola precisa de uma lei seca.
Wednesday, July 23, 2008
Sinceramente
"Eles podem gritar tão alto quanto quiserem de Washington ou de Londres. Somente o nosso povo pode decidir e mais ninguém"
Robert Mugabe
Mas que grande cabrão! Se o povo pudesse realmente decidir, ele já não estava aos comandos dessa terra falida que é o Zimbabué. Se o povo pudesse de facto decidir, ele não teria morto violentamente membros da oposição. O monstro fala como se houvesse democracia. Sinceramente!
Robert Mugabe
Mas que grande cabrão! Se o povo pudesse realmente decidir, ele já não estava aos comandos dessa terra falida que é o Zimbabué. Se o povo pudesse de facto decidir, ele não teria morto violentamente membros da oposição. O monstro fala como se houvesse democracia. Sinceramente!
Eram tempos puros e dóceis naquele tempo em que eu cresci. Em que o tempo morria devagar. Em que a brisa da tarde de Verão chegava quente e sonolenta. Dias passados entre oliveiras carregadas de azeitonas amargas e pequenas. Horas com o corpo deitado no mato selvagem enquanto se observava ao longe o burro do vizinho. O velhote desapareceu anos depois. Ninguém sabe se morreu ou se partiu para outras paragens.
Naqueles dias não se sentia o corpo juvenil. Ignorava-se os peitos cada vez maiores. Os pêlos debaixo dos braços. Corria-se à volta do bairro com um só fôlego. Jogava-se à cirumba à frente de casa com a melhor amiga da altura. Os bolsos estavam sempre carregados de ameixas vermelhas e doces.
E então de repente, a vida entrou pela porta da frente...
Naqueles dias não se sentia o corpo juvenil. Ignorava-se os peitos cada vez maiores. Os pêlos debaixo dos braços. Corria-se à volta do bairro com um só fôlego. Jogava-se à cirumba à frente de casa com a melhor amiga da altura. Os bolsos estavam sempre carregados de ameixas vermelhas e doces.
E então de repente, a vida entrou pela porta da frente...
Thursday, July 17, 2008
Lista de desejos
Filme: The bucket list
Actores: Jack Nicholson e Morgan Freeman
Fazer uma lista com os nossos desejos mais profundos requer tempo, inspiração e uma longa conversa com nós mesmos. Prefiro chamar-lhes desejos e não objectivos porque associo esta ultima palavra a trabalho. Não sou de planear, vivo sempre de acordo com a maré embora sinta pressão para deixar de viver deste modo, porque aparentemente estou velha demais para isso.
Por vezes parece-me que não sei bem o que quero, mas quando penso na minha morte ocorre-me apenas um pensamento. O de conhecer mundo...
Actores: Jack Nicholson e Morgan Freeman
Fazer uma lista com os nossos desejos mais profundos requer tempo, inspiração e uma longa conversa com nós mesmos. Prefiro chamar-lhes desejos e não objectivos porque associo esta ultima palavra a trabalho. Não sou de planear, vivo sempre de acordo com a maré embora sinta pressão para deixar de viver deste modo, porque aparentemente estou velha demais para isso.
Por vezes parece-me que não sei bem o que quero, mas quando penso na minha morte ocorre-me apenas um pensamento. O de conhecer mundo...
Ser jornalista em Angola (nunca o fui noutro lugar) é por vezes complicado e só os deuses sabem como é preciso ter uma grande dose de paciência para aturar faltas de respeito com a hora marcada, gente arrogante, entrevistados manipuladores e executivos que fazem-nos andar atrás deles durante semanas seguidas porque simplesmente não conseguem dizer não! E na maioria das vezes dizem não porque têm o rabo preso a algum lado, falta de visão e pouca confiança nos meios de comunicação.
Há dias em que adoro esta profissão, mas outros em que só me apetece meter uma licença sabática de dois anos e apanhar o avião com destino para São Tomé e Príncipe ou Moçambique!
Há dias em que adoro esta profissão, mas outros em que só me apetece meter uma licença sabática de dois anos e apanhar o avião com destino para São Tomé e Príncipe ou Moçambique!
Wednesday, July 16, 2008
Tuesday, July 15, 2008
Thursday, July 10, 2008
Incredulidade
Será que alguém me pode dizer porque é que o Edward Norton decidiu encarnar o monstro verde e sem piada chamado Hulk???
Wednesday, July 9, 2008
Ontem estava em conversa com um amigo meu e do bate-papo como dizem os brasileiros, saiu isto:
Eu: tudo bem com a namorada que te trata mal?
Ele: vai-se andando
Eu: isso é só entusiasmo, huh?
Ele: pois
Eu: porque é que ainda andas com ela?
Ele: tenho medo de ficar sozinho
Eu: estás a revelar falta de inteligência e confiança em ti próprio, sabes?
Ele: pois
Eu: além disso, és lindo de morrer, super meigo, inteligente e blá blá
Ele: tola
Eu: prometes reconsiderar esse namoro que não te leva a lado nenhum?
Ele: já o fiz e cheguei à conclusão que gosto dela
Eu: af
Eu: tudo bem com a namorada que te trata mal?
Ele: vai-se andando
Eu: isso é só entusiasmo, huh?
Ele: pois
Eu: porque é que ainda andas com ela?
Ele: tenho medo de ficar sozinho
Eu: estás a revelar falta de inteligência e confiança em ti próprio, sabes?
Ele: pois
Eu: além disso, és lindo de morrer, super meigo, inteligente e blá blá
Ele: tola
Eu: prometes reconsiderar esse namoro que não te leva a lado nenhum?
Ele: já o fiz e cheguei à conclusão que gosto dela
Eu: af
Tuesday, July 8, 2008
Amizade.Ruptura.Esperança.
A idade traz coisas fantásticas mesmo que lutemos contra ela utilizando os mais diversos argumentos. Chega uma altura na vida em que temos consciência do que somos e isso é-nos dado pela maturidade. Quando chegas a esse ponto, tornas-te inflexível e reavalias emoções e ideias feitas. E chegada a altura de perderes um amigo ou de confrontares-te com essa alma que julgavas conhecer, sentes-te de repente numa roda-viva em que a voz do outro te soa distante e algo invísivel esmurra-te o estômago.
Sentes-te perder a calma mas reconsideras a fúria porque senão as coisas acabam mal. Choras porque é só isso que resta e quando dás por ti, a outra alma também chora. Mas a cisão já lá está e mesmo que coles os pedaços de vidro, sabes que a tua mão já não conseguirá afagar o rosto de quem julgavas conhecer. E então percebes. Percebes que a outra alma utiliza o cinismo, a crueldade gratuita e a frieza, ao mesmo tempo que se acha no direito de ferir-te.
Mas a tua tolerância já está abaixo de zero. Passaste por muito nesta vida e sabes que há alturas em que o outro deve partir. Respiras fundo e percebes que nada dói dentro de ti. Olhas mais uma vez para a alma que tens à tua frente e sentes repulsa. Abres a porta de saída da tua própria vida e mandas aquele ser desaparecer entre as trevas do próprio fel.Sabes que não precisas de criaturas horríveis perto de ti.
Deves dar o teu amor a quem o merece. A quem te conheça e aceite de verdade, seja nos bons momentos ou nos terríveis. É só uma vida, esta que nós levamos. Há mais gente para amar ou para acolher.
E como tudo o que nos acontece tem retorno, descobres mais à frente, que os deuses enviaram-te uma nova alma para amar...
Sentes-te perder a calma mas reconsideras a fúria porque senão as coisas acabam mal. Choras porque é só isso que resta e quando dás por ti, a outra alma também chora. Mas a cisão já lá está e mesmo que coles os pedaços de vidro, sabes que a tua mão já não conseguirá afagar o rosto de quem julgavas conhecer. E então percebes. Percebes que a outra alma utiliza o cinismo, a crueldade gratuita e a frieza, ao mesmo tempo que se acha no direito de ferir-te.
Mas a tua tolerância já está abaixo de zero. Passaste por muito nesta vida e sabes que há alturas em que o outro deve partir. Respiras fundo e percebes que nada dói dentro de ti. Olhas mais uma vez para a alma que tens à tua frente e sentes repulsa. Abres a porta de saída da tua própria vida e mandas aquele ser desaparecer entre as trevas do próprio fel.Sabes que não precisas de criaturas horríveis perto de ti.
Deves dar o teu amor a quem o merece. A quem te conheça e aceite de verdade, seja nos bons momentos ou nos terríveis. É só uma vida, esta que nós levamos. Há mais gente para amar ou para acolher.
E como tudo o que nos acontece tem retorno, descobres mais à frente, que os deuses enviaram-te uma nova alma para amar...
Formato Arco-Ìris
Caramba, sou doida pelos Radiohead ou cabeça de rádio como gosto de lhes chamar. Pedi a um amigo que me trouxesse o album "In Rainbows" (o ultimo) do Reino Unido. Sabem como é, uma tipa mora em África e as coisas chegam cá a passo de caracol. Bom, ontem dispus-me a ouvir o CD com atenção e claro, foi uma dose de tudo de bom directamente para a alma.
Os gajos sabem o que fazem e à falta de palavreado melhor cá vai: é um som muito à frente!
Obs: músicas deste CD boas para ouvir em dias de chuva e de amor: Nude e All I Need...
Á noite
A noite ideal? Eu e tu. Eu docemente perfumada depois de duas horas a cozinhar para ti. A mesa perfeitamente composta e com direito a velas. O cheiro a comida assim que entras em minha casa. Música suave. O vinho branco que trazes porque sabes que não aprecio o tinto. Incenso no ar. O frio lá fora. E o teu sorriso matreiro ao avistares a fatiota que trajo.
Monday, July 7, 2008
Super interessante
"As a 35-year-old, middle-class, Black lesbian feminist, and a member of an interracial couple, I run the gamut between many worlds. I have experienced external racism, classism, sexism and homophobia, but I've found that oppression hurts a lot more when it comes from "one of your own."
I came out to myself when I was 11 years old. It was 1976, just two years after the American Psychiatric Association struck homosexuality off its list of mental disorders. People just didn't talk about homosexuality then. Unfortunately, in the Black community, we still don't.
So many of us who grew up in the Black community never hearing the term "homosexual" applied to us believed that it had to be a white thing and if we were to embrace homosexuality it would mean that we were truly crazy for adopting "the white man's sickness" from our oppressors.
One of the reasons Black lesbians and gays are ignored or discounted is that our presence threatens the Black family model, which is still rooted in the Black matriarchy myth.
As a woman-identified Black woman who doesn't depend on men for my self-definition, I am amazed by how my Black sisters who are invested in relationships with abusive Black men and Black men who openly cheat on them will "dis" and reject their lesbian sisters, yet defend their man and his infidelity in order to say, "At least I got a man!"
Audre Lorde, in Sister Outsider
Obs: este texto é uma excelente anotação que se adapta à realidade angolana, ou devo dizer, ao tabu angolano no que toca a este tema?
I came out to myself when I was 11 years old. It was 1976, just two years after the American Psychiatric Association struck homosexuality off its list of mental disorders. People just didn't talk about homosexuality then. Unfortunately, in the Black community, we still don't.
So many of us who grew up in the Black community never hearing the term "homosexual" applied to us believed that it had to be a white thing and if we were to embrace homosexuality it would mean that we were truly crazy for adopting "the white man's sickness" from our oppressors.
One of the reasons Black lesbians and gays are ignored or discounted is that our presence threatens the Black family model, which is still rooted in the Black matriarchy myth.
As a woman-identified Black woman who doesn't depend on men for my self-definition, I am amazed by how my Black sisters who are invested in relationships with abusive Black men and Black men who openly cheat on them will "dis" and reject their lesbian sisters, yet defend their man and his infidelity in order to say, "At least I got a man!"
Audre Lorde, in Sister Outsider
Obs: este texto é uma excelente anotação que se adapta à realidade angolana, ou devo dizer, ao tabu angolano no que toca a este tema?
Declaração de liberdade. A minha.
Sinto-me uma mulher livre. De corpo e de alma. Tenho os meus pré-conceitos mas são felizmente poucos. Tenho um pensamento livre. E o meu corpo obedece sempre a estímulos exteriores. Sem censura e sem amarras.
Faço o que quero e apenas o que quero. E isto vale para a minha sexualidade, a minha profissão e a minha forma de estar na vida.
Faço o que quero e apenas o que quero. E isto vale para a minha sexualidade, a minha profissão e a minha forma de estar na vida.
E.T. phone home
Incrível. Sempre que vejo o E.T. choro até às margens. Sensibilidade a mais ou demasiada magia para esta minha alma cínica e descrente.
Friday, July 4, 2008
Amy Amy Amy
Sim, bem sei que já tudo foi dito acerca da Amy Winehouse mas preciso deixar aqui o meu lamento.
A gaja é uma diva e já deve ter lugar cativo ao lado de Zeus. Ouvi dizer que ele assim o exigiu para que a voz dela o acalme, em dias de fúria.
Só que a Winehouse está-se nas tintas. Parece que quer morrer deixando para a história, apenas dois álbuns. Duas obras que servem de testemunho à sua passagem por esta vida.
E é pena. Parece-me que será preciso outra vida para que nasça outra cantora deste calibre.
A gaja é uma diva e já deve ter lugar cativo ao lado de Zeus. Ouvi dizer que ele assim o exigiu para que a voz dela o acalme, em dias de fúria.
Só que a Winehouse está-se nas tintas. Parece que quer morrer deixando para a história, apenas dois álbuns. Duas obras que servem de testemunho à sua passagem por esta vida.
E é pena. Parece-me que será preciso outra vida para que nasça outra cantora deste calibre.
Thursday, July 3, 2008
Porque eu amo o George Michael
"Cowboys and angels
They all take a shine to you
Why should I imagine that
I was designed for you
Why should I believe
That you would stay
But that scar on your face
That beautiful face of yours
Don't you think that
I know
They've hurt you before
Take this man to your bed
Maybe his hands will help you forget
Please be stronger than your past
The future may still give you a chance"
They all take a shine to you
Why should I imagine that
I was designed for you
Why should I believe
That you would stay
But that scar on your face
That beautiful face of yours
Don't you think that
I know
They've hurt you before
Take this man to your bed
Maybe his hands will help you forget
Please be stronger than your past
The future may still give you a chance"
Wednesday, July 2, 2008
Epifania
Hoje tive uma epifania em pleno duche, ou seja, fui visitada pelo anjo da lucidez e só gostava que este ser me viesse ver mais vezes. Porquê?
Percebi que gosto da ideia de ti. De saber-te aí, pronto para dares-me música chinesa e olhares-me com distanciamento. Ando com a cabeça na lua por ti mas nem sequer me causas borboletas no estômago ou tiras-me o apetite. Sonho contigo e juro não saber porquê. Não traço planos a longo prazo, mas gostava de levar-te comigo ao paraíso. Onde cheira a terra molhada e o verde se estende para lá do meu corpo.
Gosto de ti porque sim. Pelo triste hábito de gostar sem os pés no chão e de acreditar, sim de acreditar que amo, quando na realidade nem sei bem como o fazer...
Percebi que gosto da ideia de ti. De saber-te aí, pronto para dares-me música chinesa e olhares-me com distanciamento. Ando com a cabeça na lua por ti mas nem sequer me causas borboletas no estômago ou tiras-me o apetite. Sonho contigo e juro não saber porquê. Não traço planos a longo prazo, mas gostava de levar-te comigo ao paraíso. Onde cheira a terra molhada e o verde se estende para lá do meu corpo.
Gosto de ti porque sim. Pelo triste hábito de gostar sem os pés no chão e de acreditar, sim de acreditar que amo, quando na realidade nem sei bem como o fazer...
Friday, June 27, 2008
Espiadela ao mundo gay
Hora: 6 da matina
Local: Príncipe Real, Lisboa
Personagens reais: Clara, Sérginho e Lwena
Estado: ébrios
Estamos sentados num banco de madeira no jardim do Príncipe Real. Aguardamos pela abertura de um dos cafés da zona a fim de tomarmos um bom pequeno-almoço.
O meu amigo Sérginho está entre mim e a Lwena. Os pássaros anunciam o novo dia, enquanto cozemos a bebedeira dizendo disparates e fumando erva sem parar.
Convém dizer que o Sérginho é gay e talvez por isso é que lá fomos parar. Á medida que o tempo passa, ele vai girando a cabeça e fazendo sinais aos homens que por ali passam, ao mesmo tempo que vai dizendo "vocês as duas estão dar-me cabo do caldinho". Talvez. Mas estamo-nos nas tintas para isso.
Eu estou pasma. Vivi mais de vinte anos em Lisboa, era frequentadora assídua do Bairro Alto e nunca soube que o Príncipe Real era paragem obrigatória para gays. É ali um dos pontos de partida para uma noite de sexo ou algo mais.
A Lwena vai tentando meter conversa com os pássaros. Entre um chilrear e outro, atira "porra, parece-me que para vocês é mais fácil. É só chegarem aqui e zás. Têm a papa toda feita". Sei bem porque diz aquilo. Não come ninguém há quase um ano e chegou à conclusão que é difícil engatar gajos. A mim parece-me que ela é que não se deixa engatar.
Entretanto, sentou-se um homem no banco à nossa frente. Faz sinais ao meu amigo e ele vai acenando. Começo a achar que a qualquer momento vamos ficar sem Sérginho. Engano-me. O homem levanta-se de repente e vai ter com um outro. Ficam na conversa durante meia-hora.
Vindos não sei onde, chegam cada vez mais homens. Uns sentam-se e outros vão dando voltas ao longo do parque. Registo tudo mentalmente. Estou fascinada com esta porta de entrada para o mundo gay.
Os dois homens levantam-se. A conversa deve ter sido proveitosa porque partem juntos rumo à paragem de táxi. Os táxistas da zona já estão habituados e "muitos deles também páram aqui. E são na sua maioria homens casados e pais de filhos", diz-me o Sérginho. Catano, penso eu. Devo estar com cara de alucinada porque ele olha para mim e desata-se a rir.
Já li inúmeros artigos sobre o mundo gay mas todos nós sabemos que nada melhor do que a vivência. E ali estava eu. A observar in loco a rotação extraordinária de dezenas de homens em busca de prazer e a encher a cabeça com imagens pornográficas.
O Sérginho faz-me voltar à realidade, "devias fazer uma reportagem sobre isto". Ah, pois devia!
Local: Príncipe Real, Lisboa
Personagens reais: Clara, Sérginho e Lwena
Estado: ébrios
Estamos sentados num banco de madeira no jardim do Príncipe Real. Aguardamos pela abertura de um dos cafés da zona a fim de tomarmos um bom pequeno-almoço.
O meu amigo Sérginho está entre mim e a Lwena. Os pássaros anunciam o novo dia, enquanto cozemos a bebedeira dizendo disparates e fumando erva sem parar.
Convém dizer que o Sérginho é gay e talvez por isso é que lá fomos parar. Á medida que o tempo passa, ele vai girando a cabeça e fazendo sinais aos homens que por ali passam, ao mesmo tempo que vai dizendo "vocês as duas estão dar-me cabo do caldinho". Talvez. Mas estamo-nos nas tintas para isso.
Eu estou pasma. Vivi mais de vinte anos em Lisboa, era frequentadora assídua do Bairro Alto e nunca soube que o Príncipe Real era paragem obrigatória para gays. É ali um dos pontos de partida para uma noite de sexo ou algo mais.
A Lwena vai tentando meter conversa com os pássaros. Entre um chilrear e outro, atira "porra, parece-me que para vocês é mais fácil. É só chegarem aqui e zás. Têm a papa toda feita". Sei bem porque diz aquilo. Não come ninguém há quase um ano e chegou à conclusão que é difícil engatar gajos. A mim parece-me que ela é que não se deixa engatar.
Entretanto, sentou-se um homem no banco à nossa frente. Faz sinais ao meu amigo e ele vai acenando. Começo a achar que a qualquer momento vamos ficar sem Sérginho. Engano-me. O homem levanta-se de repente e vai ter com um outro. Ficam na conversa durante meia-hora.
Vindos não sei onde, chegam cada vez mais homens. Uns sentam-se e outros vão dando voltas ao longo do parque. Registo tudo mentalmente. Estou fascinada com esta porta de entrada para o mundo gay.
Os dois homens levantam-se. A conversa deve ter sido proveitosa porque partem juntos rumo à paragem de táxi. Os táxistas da zona já estão habituados e "muitos deles também páram aqui. E são na sua maioria homens casados e pais de filhos", diz-me o Sérginho. Catano, penso eu. Devo estar com cara de alucinada porque ele olha para mim e desata-se a rir.
Já li inúmeros artigos sobre o mundo gay mas todos nós sabemos que nada melhor do que a vivência. E ali estava eu. A observar in loco a rotação extraordinária de dezenas de homens em busca de prazer e a encher a cabeça com imagens pornográficas.
O Sérginho faz-me voltar à realidade, "devias fazer uma reportagem sobre isto". Ah, pois devia!
Wednesday, June 25, 2008
Preciso de um café extra-forte e de uma passagem de avião para Nova Iorque. Talvez encontre o Shemar Moore ou o Eddie Vedder pelas ruas americanas. Talvez vá direitinha ao bar mais in e me enfrasque com dry martinis, shots ou licores duvidosos. Quem sabe não me apaixone loucamente como nos folhetins mexicanos?
Angola no seu melhor
O prédio da DNIC - direcção de investigação criminal - caiu. O som da tragédia começou a ouvir-se à uma da manhã. A cave tinha duas celas, uma para mulheres e outras para homens. O prédio foi construído sobre um lençol de água, no tempo colonial. Os funcionários do prédio da DNIC puseram-se na alheta ao perceberem que a tragédia vinha contra eles a passos largos. Os reclusos e reclusas gritaram por socorro. Imploraram aos guardas que os deixassem sair. As entidades governamentais já sabiam que o edíficio corria o risco de cair. Semanas antes, andaram por lá chineses a colocar vidros novos e a pintar a fachada. Ás quatro da manhã o prédio cai. Era um sábado. Os bombeiros acorrem ao local. Um dos ex-directores da DNIC afirma indignado perante os órgãos de comunicação que a tragédia podia ter sido evitada, enquanto leva as mãos à cabeça. Escombros e mais escombros. Encontram-se os primeiros mortos. São reclusos. Os transeuntes perguntam-se se há hipótese de salvar as reclusas. Elas ainda estão vivas, graças a um telemóvel levado até à cave por um cão pastor alemão. Sabe-se que na cela das reclusas encontra-se um bebé recém-nascido. Coisas de Angola. Horas depois, as prisioneiras e o bebé são tirados sem vida dos escombros. A ambulância leva os corpos para a morgue do hospital mais próximo. Está muito calor. Não há espaço para os mais de vinte mortos...
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